Wednesday, December 06, 2006

CENTRO HISTÓRICO DE GAIA: DE PROJECTO EM PROJECTO... ATÉ À CAMPANHA ELEITORAL!!! (PARTE IV)

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Por mera coincidência ou estranha força impulsionada por uma qualquer espécie de insite emocional, no momento em que decidi debruçar-me sobre a segunda UOR do “Masterplan”, que se focaliza no Castelo/Lugar de Gaia, o berço do concelho, a quem muitos chamam “o presépio da cidade”, cada vez mais deserto, mais pobre, mais cinzento, mais frio e mais infeliz, entregue à sorte dos deuses e à incúria dos homens que governam os destinos de Vila Nova de Gaia, a iluminação pública natalícia já se acendeu, anunciando o nascimento do Menino… É (quase) Natal!
Foi aqui que nasceu Gaia, num Lugar carregado de simbolismo e misticismo, repleto de vestígios de uma história que remonta a tempos medievais. Por aqui passaram romanos, muçulmanos, galegos e outros povos, que se desvendam nas lendas de Rei Ramiro e de Santa Liberata; nas marcas do Castelo, que foi completamente desmantelado pelas gentes do Porto, em 1386; na Capela do Bom Jesus de Gaia, que foi sede episcopal dos Suevos, anterior à do Porto, e fundada por S. Basílio; na Fonte que se “esconde” na Quinta do Conde de Campo Bello, pertença dos descendentes dos senhores de Gaia, linhagem iniciada por Álvaro Anes de Cernache…

Os técnicos da Parque Expo que elaboraram o “Masterplan” afirmam que «os vestígios arqueológicos do Castelo de Gaia, a morfologia do terreno e respectivo sistema de vistas (miradouro privilegiado sobre o Rio e a Cidade – digo eu!) assumem-se como as grandes potencialidades desta área, justificando a reabilitação do edificado existente e a qualificação do espaço público como forma de revitalização da zona», ao mesmo tempo que sublinham «a riqueza paisagística da Quinta do Conde de Campo Bello», onde sugerem «o desenvolvimento de novas actividades, nomeadamente associadas ao turismo».
Convém referir que o Estudo/Diagnóstico efectuado pelos técnicos da Parque Expo assenta em valores e princípios transversais a todo o Centro Histórico, de que relevo o seguinte: «A dimensão ambiental e paisagística deve ser assumida como um valor fundamental da estratégia de reabilitação (…). No que respeita à dimensão patrimonial e cultural, consideramos fundamental garantir a valorização e o reforço da identidade única do território através da revitalização e reabilitação do património, em todas as suas vertentes: natural, histórica, cultural e económica (…). No que respeita à dimensão socio-economica, haverá que criar condições para promover a fixação da população, designadamente através da reabilitação das áreas habitacionais existentes (…)».

O “Masterplan” não é mais do que um projecto, uma visão global sobre o Centro Histórico, um conjunto de macro-propostas que precisa de descer a plataformas estratégicas de actuação, ao passo-a-passo de acções coordenadas, visíveis e capazes de empolgar e entusiasmar a cidade e os cidadãos. Mas até agora o que se viu no Lugar de Gaia por parte de quem decide foi nada, absolutamente zero! Ou melhor, o que se vê é um povoado quase deserto, degradado e votado ao abandono, com grande parte do seu património edificado em risco de ruína, constituindo um autêntico atentado à segurança pública.
As pessoas que lá viviam e foram deslocadas para outros locais com a promessa de retornarem ao seu “presépio” continuam, até hoje, à espera de notícias que as empolguem e as entusiasmem. O regresso ao “seu” Lugar de Gaia é o que elas mais desejam! Mas não só: gostariam, como todos nós, que a Câmara respondesse a muitas perguntas… Que futuro para o morro do Castelo? Que futuro para a antiga Corticeira? Que futuro para o Monte da Fraga? Que futuro para a Quinta do Vale da Piedade e para a Casa da Bela Vista? O que será preciso fazer ou dizer mais para que se deixe de delapidar tanta história, tanta memória, tanta riqueza natural e paisagística? Quando será que os nossos governantes serão capazes de nos empolgar e entusiasmar?...

Será que as lendas de Rei Ramiro e de Santa Liberata não contêm só por si um potencial mais do que suficiente para dinamizar social, económica e culturalmente o Lugar de Gaia? Será que a valorização do património histórico e cultural não é um importante factor de criação de condições de crescimento local, da fixação das populações e de incremento das actividades económicas? Será que a oportunidade que nos oferece o Lugar de Gaia de ser um dos principais motores de desenvolvimento do Centro Histórico, pelo interesse turístico que pode despertar, não é fortemente motivador da prioridade a dar à sua requalificação?...

Será que a Câmara do Dr. Meneses e do seu “escudeiro” Marco António Costa continua sem dar resposta a tantas interrogações apenas por falta de imaginação e de criatividade?... ou será que outros interesses se escondem por detrás desta aparente apatia?!...

0 Comments:

Post a Comment

<< Home