Sunday, June 22, 2008

AINDA OS ESTALEIROS DOS BARCOS RABELOS… E AS CAVES DE VINHO DO PORTO

salvadorpereirasantos@hotmail.com

No meu texto anterior defendi a preservação e a requalificação urgente dos Estaleiros dos Barcos Rabelos, pelo inestimável valor histórico, cultural e identitário que eles representam. Retomo hoje o assunto para recordar que o Programa Operacional Espaço Atlântico (em vigor até 2013), iniciativa comunitária de cooperação transnacional que visa o desenvolvimento territorial coesivo, sustentável e equilibrado do Espaço Atlântico e do seu património marítimo, consagra um “Objectivo” cujo enquadramento estratégico fomenta a apresentação de candidaturas de Projectos regionais de transformação dos Estaleiros tradicionais em “Museus Vivos”.

A Espanha (através das Associações do sector de actividades náuticas da nossa vizinha Região da Galiza) e outros países da fachada atlântica da União Europeia apresentaram já os respectivos projectos locais. A identificação de todos os Estaleiros de “construção naval em madeira”, a criação de uma base de dados atlântica desse tipo de embarcações e o desenvolvimento de programas de melhoria das infra-estruturas físicas a recuperar na orla marítima, são algumas das medidas defendidas naquelas candidaturas. Todas elas sublinham, porém, a transversalidade e a conjugação de importantes valências, como a cultura, o turismo, a educação, a indústria e o comércio.

Soube, entretanto, que em Portugal se perspectiva uma candidatura subscrita pela Associação das Indústrias Marítimas, apoiada tecnicamente pelo Instituto Superior Técnico e pelo Museu da Marinha, com a qual se pretende evitar o desaparecimento deste importante tecido industrial, garantindo a subsistência do património cultural que está a perder-se a um ritmo preocupante. Segundo um estudo recente, no período que medeia entre 1986 e 1995, havia no nosso país 29 Estaleiros tradicionais em funcionamento (13 no Norte, 12 no Centro e 4 no Sul), de onde se conclui que só na última década desapareceram 52% dos Estaleiros então existentes.

Entre os Estaleiros de madeira que resistem à voragem dos tempos estão os de Vila Nova de Gaia, que, através desta candidatura ao Programa Operacional Espaço Atlântico, podem ver reforçadas as suas defesas contra eventuais desmandos da autarquia em impedir que ali se continue a construir e a recuperar Barcos Rabelos. Convém sublinhar que este tipo de embarcação, cuja história de vida remonta a tempos anteriores à fundação da nacionalidade, está indelevelmente associado à evolução dos processos de produção e de comercialização do Vinho do Porto, sobretudo após 1792, quando passou a ter a sua identidade definida pelas Leis da pombalina “Companhia”.

A este propósito, convém recordar que Luís Filipe Menezes insiste em desbaratar a imensa riqueza que encerra o Centro Histórico de Gaia, designadamente as suas Caves de Vinho do Porto, cuja Candidatura a Património Mundial da UNESCO se mantém num estranho e misterioso impasse. Se associar este facto às investidas contra os Estaleiros dos Barcos Rabelos, começo a duvidar que o presidente da Câmara saiba que o Vinho do Porto é considerado um símbolo de Portugal no Mundo, comportando a história de um país e de um povo, constituindo um património cultural colectivo de trabalho, experiências, saberes e artes, acumulado ao longo de gerações…

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