Wednesday, April 09, 2008

«É A GRANDE LOUCURA!!!» – DIZ MÁRIO DORMINSKY

salvadorpereirasantos@hotmail.com

O número dois de Luís Filipe Menezes no Executivo da Câmara Municipal de Gaia, e putativo candidato a presidente da autarquia nas próximas eleições, Marco António Costa, afirmou recentemente que a Cultura ia ter muito mais dinheiro em 2009. Como o tempo voa!... Volvidas apenas cerca de duas semanas, chegou o anúncio pela voz de Mário Dorminsky: «Dentro de uma certa loucura, decidimos fazer dez dias de maratona cultural dividida pelas vinte e quatro freguesias do concelho de Gaia». É de facto uma grande loucura, como muito bem diz o vereador da Cultura…

Mais de duzentas (!..) iniciativas, envolvendo música, teatro, dança, cinema, folclore, gastronomia e animação de rua, espalharão a festa pelo Concelho de Gaia, entre 18 e 27 de Abril. Como seria de esperar, o lado popularucho e revivalista dominará o evento. E, como não podia deixar de ser, o Cais recebe os “principais programas da festa”. José Cid abre as “hostilidades” numa tenda gigante montada para o efeito junto ao rio Douro, dando de seguida lugar ao jornalista/DJ portuense Rodrigo Affreixo que nos “brindará” com uma espécie de “rave” com música dos anos 60, 70 e 80.

É uma grande loucura – diz Dorminsky. É verdade. Só falta mesmo o circo! Os ilusionistas, os acrobatas, os malabaristas, esses estão nos bastidores, na organização da “coisa”, para continuarem a atirar-nos às “feras”… depois da festa! Este conceito de Cultura está velho, gasto, irremediavelmente datado e… tem um pivete danado a FNAT, a SNI, a Estado Novo! Os mais distraídos poderão estar tentados a entrar na festa, esquecendo as Taxas de Acesso, o IMI, a Taxa de Disponibilidade da água, o Desemprego de longa duração... Afinal, é para isso que servem estas grandes festas!

Chamam-lhe a «Festa da Cultura de Vila Nova de Gaia» e o vereador Dorminsky diz que ela pretende ligar «tradições e cultura urbana», com «bom gosto e qualidade», sem esquecer o «lado popular», promovendo actividades que «abarquem todas as faces da cultura». Será por isso que o evento integra um espaço dedicado à venda de discos, roupas e objectos da década de 70, e outro que pretende relembrar a música dos anos 60 e a cultura da época?!... «Todo este conceito revivalista tem a ver com a celebração dos 40 anos do Maio 68», argumenta Dorminsky, sem vergonha nem decoro.

Como se já não bastasse o rídiculo da invocação do Maio de 68 para justificar o cheiro a mofo a que tresanda esta iniciativa, ainda há o desplante de dizer que se vai «aproveitar» (sic) o feriado de 25 de Abril, para realizar (no âmbito da festa…) uma tertúlia e um colóquio para “discussão” da Revolução dos Cravos. O Salgueiro Maia vai ficar triste, o Zeca zangado, o Adriano desgostoso, a Sophia desiludida, o Ary dos Santos em brasa, o António Pedro assanhado, o Mário Viegas em fúria e o Almada a rebentar de raiva. Eles e os soldados de Abril não mereciam que se fizesse tal desmando.

A Cultura não pode ser entendida como mero entretenimento. Ela tem de afirmar-se como veículo de formação do cidadão, possibilitando a valorização humana, a título individual e colectivo. Ela deve ser entendida como uma ferramenta indispensável ao desenvolvimento da sociedade. A cultura que agora nos querem dar foi aquela que nos “venderam” no passado e que apenas serviu para nos endurecer a consciência, impedir que meditássemos nas razões da nossa pobreza crescente e evitar a todo o custo que ganhássemos espirito cívico e sentido critico. Isso não queremos, NUNCA MAIS!

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