Thursday, June 12, 2008

OS HOTEIS TEMÁTICOS E DE CHARME, OS CONDOMÍNIOS DE LUXO E… OS ESTALEIROS DOS BARCOS RABELOS!...

salvadorpereirasantos@hotmail.com

A máquina de propaganda da Câmara Municipal de Gaia não pára. Repete até à exaustão notícias velhas e promove sucessivos eventos para abordar assuntos que já marcaram a agenda mediática vezes sem conta. O exemplo mais recente foi um acontecimento que mereceu a “bênção” do ministro da Economia, Manuel Pinho: o lançamento da primeira pedra da construção do cinco estrelas “The Yeatman Hotel & Wine Spa”, do grupo inglês The Fladgate Partnership, empreendimento anunciado pela primeira vez em Setembro de 2006 (ver: http://santa-marinha.blogspot.com/2006/09/um-hotel-de-charme-no-centro-histrico.html) e que tem sido objecto de referência em diversos órgãos de comunicação social inúmeras vezes, desde então, sem que se perceba muito bem a pertinência da notícia ou os critérios (serão editoriais?!...) que lhe dão origem.

Como não podia deixar de ser, neste encontro, que reuniu o supracitado ministro, o presidente da Câmara de Gaia, vereadores e deputados municipais, investidores e jornalistas, voltou a relevar-se a importância do empreendimento, tendo o vereador da Cultura, do Património e do Turismo referido que está prevista a construção de mais três hotéis de “charme” naquela zona. Como se sabe, uma das unidades hoteleiras integrará o Centro Cultural a construir à beira-rio, sendo que nas suas proximidades serão edificados dois complexos habitacionais de luxo, um na antiga Destilaria do Álcool e o outro nas ex-instalações do Hard Club. Mário Dorminsky sublinhou ainda, com grande e inconsciente euforia, que estes investimentos «colocarão Gaia no roteiro turístico internacional de qualidade, permitindo atrair e fixar turistas, modificando radicalmente o Centro Histórico».

As afirmações de Dorminsky mereciam um comentário mais… radical, mas não vale a pena “chover no molhado”. Até porque ele não iria perceber o que se me oferece dizer sobre o assunto. Porém, não consigo calar uma pergunta que me inquieta: será que os níveis de radicalismo das políticas da autarquia naquela zona pressupõem o fim do Estaleiros dos Barcos Rabelos? Eu sei que o celebérrimo “Masterplan” contempla a criação de um “Museu Vivo” subordinado à história do Barco Rabelo, o que pode consagrar a manutenção dos Estaleiros no local onde se encontram, mas o silêncio sobre o assunto é preocupante. A Socrenaval, empresa que gere os Estaleiros, ainda não foi contactada pela Câmara, desconhecendo por completo o que lhe reserva o futuro; por outro lado, não me sai da memória a tentativa desesperada de Menezes em deslocar os Estaleiros para outro sítio, em 2005.

A ideia original de associar um núcleo museológico aos Estaleiros dos Barcos Rabelos é antiga e não é da Câmara nem da Parque Expo, entidade que elaborou o “plano estratégico para a revitalização do Centro Histórico”. Idealizado pela Socrenaval, o projecto previa a requalificação dos Estaleiros e a construção de um Edifício, onde os visitantes poderiam saber tudo sobre os Barcos Rabelos e obter informações relativas à enorme diversidade de embarcações que navegaram nas águas do Douro ao longo dos tempos, através de bibliografia, maquetas e outros suportes, para além de ter acesso a documentação e informação sobre a importância do Douro nos séculos XV e XVI, designadamente no que respeita aos Descobrimentos. Menezes tinha conhecimento do projecto, mas nunca o apoiou. E no final do seu anterior mandato tentou “trocá-lo” por um… parque de estacionamento!

Recuando a meados do ano 2005, lembro-me da decisão da Câmara em construir, no âmbito do Programa Polis, um parque de estacionamento contíguo ao Cais de Gaia que faria deslocar os Estaleiros para outro local. A questão suscitou enorme polémica, unindo todas as forças políticas de esquerda e várias personalidades do concelho ligadas à cultura e ao turismo, num enérgico coro de protestos. Na altura, a empresa que gere os Estaleiros ponderou recorrer a tribunal, mas o recurso à justiça nunca se concretizou, uma vez que a autarquia recuou nos seus propósitos. Na última Assembleia Municipal de Dezembro de 2005, Luís Filipe Menezes garantiu que os Estaleiros se manteriam onde sempre estiveram, mas… «com regras e condições que conferissem dignidade ao local». A Socrenaval apenas soube da decisão pelos jornais e, curiosamente, nunca mais se ouviu falar no assunto.

O silêncio a que esta questão foi remetida não augura nada de bom. Podemos estar perante mais um atentado à nossa história! Apesar de “imaterialidade” ser um vocábulo que passou inesperadamente a fazer parte do léxico político de Luís Filipe Menezes, reservo fundados receios de que os Estaleiros tenham os dias contados e o “Museu Vivo do Barco Rabelo” nunca venha a sair do papel. A minha inquietação radica no total desprezo a que o futuro ex-presidente da Câmara de Gaia tem votado as marcas culturais inscritas no património natural e edificado e nas memórias sociais que formam a identidade do nosso concelho, culturalmente rico na diversidade e único nas suas raízes históricas. Apesar disso, ainda há quem acredite na preservação e requalificação dos Estaleiros (com Museu e tudo!...). Oxalá eu esteja enganado, mas com Menezes na presidência da Câmara…

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