Thursday, March 29, 2007

CENTRO HISTÓRICO DE GAIA: DE PROJECTO EM PROJECTO… ATÉ À CAMPANHA ELEITORAL!!! (PARTE X)

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Regresso hoje ao “Masterplan” para me reportar pela primeira vez à sua quinta Unidade Operativa de Reabilitação (UOR), que se focaliza na Escosta e na Escarpa da Serra do Pilar e na frente ribeirinha situada entre a Ponte Luís I e o Cais do Areinho, onde se pode ler: (frente ribeirinha) «a riqueza natural e paisagística, a par do património e do edificado devoluto em condições de ser reabilitado, conferem a esta zona um forte potencial em termos de desenvolvimento turístico, pressupondo contudo a melhoria das acessibilidades e requalificação do espaço público»; (encosta da escarpa da Serra do Pilar) «zona bastante declivosa ocupada por caves do Vinho do Porto desocupadas e por unidades de habitação de génese ilegal (…) Devido à forte presença do Convento, esta zona deverá assumir-se como espaço de enquadramento».

Que eu saiba, até ao momento, no que diz respeito à frente ribeirinha a que se refere a quinta UOR do “Marterplan”, a Câmara Municipal ainda só teve imaginação e capacidade suficientes para anunciar a construção de um Parque de Estacionamento!... Ao mais disse… nada! Nem uma palavra sequer sobre as pontes, por exemplo. A Ponte das Barcas e a Ponte Pênsil são riqueza histórica simbólica que continua à espera que um qualquer vereador da Cultura (do Património e do Turismo…) com dois “dedos de testa” se dê conta das enormes vantagens de um “programa” que recupere, revitalize, projecte a sua memória, em conjugação com o elevado património “material” que representa a Ponte Luís I, ali ao lado, tão só e desprotegida, enquanto mais alguns metros atrás apodrece no esquecimento dos autarcas das duas margens do Douro uma verdadeira jóia da engenharia: A Ponte D.Maria!....

No que concerne à Encosta e à Escarpa da Serra do Pilar, as brilhantes cabeças que ocupam os cadeirões dos gabinetes de decisão da Autarquia gaiense optaram por nomear uma Comissão Técnica de Avaliação e Acompanhamento para a Requalificação daquela zona. Será mais um estudo a juntar a um outro elaborado há cerca de dez anos, onde se afirma claramente a necessidade de se proceder ao «arranjo paisagístico da Escarpa, à consolidação dos elementos naturais, à criação de espaços de lazer e de serviços públicos, à rectificação do traçado e perfil dos arruamentos existentes, à regularização do quadro edificado e à dotação de infra-estruturas convenientes à salubrização da zona». Enquanto se procedem a mais estudos e avaliações, ficamos na expectativa de que as suas conclusões e os trabalhos subsequentes ainda venham a tempo de salvar a Serra do Pilar e as vidas das pessoas que se expõem diariamente aos perigos de mais enxurradas e deslizamentos de terras na Encosta e na Escarpa!!!

A propósito das pessoas, e antes que a Autarquia faça tábua rasa do respeito pela dignidade humana e da salvaguarda dos direitos adquiridos pelos cidadãos que vivem na Encosta e na Escarpa da Serra, levando por diante a ameaça de demolir o parque habitacional ali existente, com o argumento de que “as casas são ilegais!”, gostaria de recordar que a nosssa memória cultural não é apenas constituída por Monumentos e Paisagens. As pessoas, as comunidades, são bens patrimoniais que acrescentam real valor aos Lugares! Há apenas que consolidar o que já existe de bom em cada Lugar e melhorar, requalificar, o que merece cuidados específicos de conservação e de enquadramento com o meio envolvente. Não é destruindo o passado e a história que se constrói um futuro com memória!

Os lugares, as pessoas, as casas e as regiões têm um espírito, sempre feito de diferenças e de complementaridades. Temos de compreender o espírito dos lugares e transformar essa compreensão num modo de enriquecimento cultural a partir do diálogo produtivo entre o que herdamos e o que criamos de novo, o que nos conduz inevitavelmente à noção da diversidade como um factor de unidade e não de fragmentação. O investimento no futuro tem de ter como suporte uma “moeda” forte com duas faces distintas, e às vezes aparentemente antagónicas, mas que se completam e se potenciam mutuamente... sempre: passado e presente! Não podemos apagar do amanhã o que o passado nos legou. Só é possível projectarmo-nos hoje no futuro se o fizermos de forma articulada e positiva, inserindo-nos na alma e na história de cada Lugar sem violar o seu carácter!!!

Estas considerações não contraditam o espírito do “Masterplan”. São apenas suscitadas pelo temor de que a sua letra não seja respeitada naquilo que mais directamente afecta as pessoas anónimas, o povo! Voltarei em breve a falar das Pontes, do Cais do Areinho, da Encosta e da Escarpa da Serra do Pilar. Será então o momento de falar mais detalhadamente das Pontes Luís I e D.Maria, mas também das Pontes da Arrábida, do Infante, de S.João e do Freixo, da memória das Pontes das Barcas e Pênsil… e das outras “pontes” que urge fazer entre o passado e o presente, de olhos postos num futuro que se centre no que é de facto importante em todos os momentos de cada época: as pessoas!, vivam elas em grandes mansardas ou em casas humildes, em avenidas novas ou em velhas ruelas, junto ao Cais do Areinho, na Encosta ou na Escarpa da Serra do Pilar…

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