Saturday, June 28, 2008

28 DE JUNHO (1984-2008): VILA NOVA DE GAIA É CIDADE HÁ 24 ANOS!

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Exactamente hoje, no dia em que Vila Nova de Gaia comemora o 24º aniversário da sua elevação a cidade, tomei conhecimento de que o fundo documental da Real Companhia Velha já não vai para o Arquivo Municipal de Gaia, ao contrário do que chegou a ser anunciado por Luís Filipe Menezes. Recorde-se que, em Fevereiro passado, aquando de uma visita guiada às futuras instalações do Arquivo Municipal (na companhia da comunicação social, claro!...) o presidente da Câmara de Gaia anunciou que aquele equipamento ia receber o acervo da Real Companhia Velha. «É o espólio mais significativo sobre a história do vinho do Porto», congratulou-se então o autarca, acrescentando que as negociações se arrastavam há muito.

Afinal, Luís Filipe Menezes estava a fazer “bluff” ou… a jogar uma “carta falsa de um baralho viciado”! O presidente da Real Companhia Velha veio agora a terreiro afirmar que o arquivo daquela empresa, um fundo documental notabilíssimo, composto por cerca de nove mil livros manuscritos, sem o qual não há pensamento sobre o Douro e que remonta a 1756, não está de saída, nem para o Arquivo de Gaia, nem para parte alguma. «Está aqui e está bem. O arquivo pertence à empresa, é a sua alma e não há nenhuma motivação para o alienar», declarou o presidente da Real Companhia Velha, acrescentando que, enquanto a empresa tiver espaço nas suas instalações para o acolher condignamente, o arquivo permanecerá na sede da “Companhia”.

Tenho pena que seja esta a decisão do responsável máximo da Real Companhia Velha, mas compreendo-o. A forma despiciente como Menezes se tem comportado face ao imaterial, à defesa dos valores históricos e à preservação da nossa memória colectiva não é garante de que o seu interesse pelo acervo daquela empresa seja ditado por preocupações culturais. Qualquer pessoa atenta às políticas municipais nos domínios do Património percebe que o presidente da Câmara apenas se pretende servir do “histórico” como mote para a sua afirmação mediática. No caso da Real Companhia Velha, aliás, existe um passivo histórico que não abona nada a favor de Menezes. Basta ver a forma como ele tratou as antigas instalações daquela empresa à beira-rio…

Num futuro próximo, quando a administração da Real Companhia Velha verificar que a Câmara de Gaia tem à frente dos seus destinos um político com preocupações culturais genuínas, que tenha uma verdadeira consciência da importância dos arquivos municipais como memória da vivência de uma comunidade e que compreenda a pertinência da partilha do património arquivístico pelos munícipes, decerto que irá reconsiderar a sua posição. Até lá, enquanto o “folclore político de fachada” perdurar, o “novo” Arquivo Municipal, financiado pelo Programa de Apoio à Rede de Arquivos Municipais e pelo Instituto dos Arquivos Nacionais, continuará pobre de documentos relativos a uma das mais ricas páginas da história do Município.

O Arquivo que Menezes prometeu inaugurar em Março passado (!!!) não pode ser um simples depósito. Tem de ser um equipamento interactivo de partilha da memória de uma das povoações mais antigas do país. A ocupação humana do actual Município de Gaia remonta ao Paleolítico (100.000 a.C.). No Castelo de Gaia existem vestígios desde o Bronze Final (750 a.C.) e, recentemente, foram descobertos materiais de construção romanos na rua Direita. A existência de uma vila de Portugal entre Mafamude e Coimbrões é mencionada em documentos datados do ano 922, mas não se sabe ao certo desde quando existe o Município de Gaia, cuja povoação principal sempre foi o lugar de Gaia (espaço geográfico dentro dos limites da actual freguesia de Santa Marinha).

Segundo a história oficial nos dá conta, o Município de Vila Nova de Gaia, então designado como Julgado de Gaia, remonta ao século XIII, tendo estado depois sob administração da cidade do Porto entre 1384 e 1834. A restauração da sua independência administrativa ocorreu em 1834, originando a configuração do território que hoje constitui o Concelho, salvo algumas alterações registadas desde então: Avintes, Crestuma, Grijó e Sandim, na altura concelhos, passaram a freguesias de Gaia; a freguesia de Lever integrava então o concelho de Vila da Feira; a freguesia de Guetim integrava Gaia e actualmente pertence ao concelho de Espinho; e a freguesia de Santa Marinha perdeu a sua parte poente com a criação da freguesia da Afurada.

Desde 1841 que o Município de Vila Nova de Gaia ambicionava ascender à categoria de cidade. Este pedido foi formulado à rainha D. Maria II nesse ano e mais tarde, em 1850. Já no século XX, em 1931, com a publicação do novo Código Administrativo, chegou a estar prevista a sua elevação a cidade, o que entretanto não se viria confirmar. Alguns anos mais tarde, em 1973, o Conselho Municipal Vila Nova de Gaia aprovou uma proposta nesse sentido. Mas só em 1984, no ano em que Vila Nova de Gaia comemorou os 150 anos da restauração do Município, a Assembleia da República, através da Lei nº. 15/84, de 28 de Junho, aprovou a elevação de Vila Nova de Gaia a cidade. Desde então, 28 de Junho passou a ser o Dia Municipal de Vila Nova de Gaia.

Sempre esperei que no dia de hoje as portas das novas instalações do Arquivo Municipal se abrissem para a sua inauguração. Mas não. As obras estão atrasadas. Tudo está atrasado em Vila Nova de Gaia! Desde a episódica, dolorosa e traumática passagem de Luís Filipe Menezes pela liderança do seu partido que a Câmara parou. Só não vê quem não quer ver: as lutas intestinas paralisaram o Município! As ambições de Marco António Costa, José Guilherme Aguiar e Firmino Pereira transformaram a Câmara num autêntico “saco de gatos”. Para disfarçar tanta inoperância e falta de rumo, Menezes entra num desvario de venda de “banha da cobra”. Anuncia o que já havia anunciado. Promete o que já havia prometido. Garante o que já havia garantido. Enfim: tudo velho, nada de novo! Nem o Arquivo Municipal…

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