SANTA MARINHA, MEU AMOR

Sunday, November 26, 2006

CENTRO HISTÓRICO DE GAIA: DE PROJECTO EM PROJECTO… ATÉ À CAMPANHA ELEITORAL!!! (PARTE III)

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Prosseguindo a análise sobre a primeira UOR (Unidade Operativa de Reabilitação) do “Masterplan”, que abrange a área Cais de Gaia/Caves de Vinho do Porto, e depois de nos termos debruçado sobre os sectores da hotelaria e da habitação, fixemo-nos agora sobre o Lazer e a Cultura (actividades identificadas como Indústrias Criativas), que constituem hoje, nos países mais desenvolvidos, o segmento económico com maior crescimento e com um peso mais significativo na criação de emprego, riqueza e exportações.
Entenda-se por indústrias criativas aquelas que têm origem na criatividade, no talento e nas capacidades individuais, e que têm o potencial para a geração de riqueza e emprego que advém da criação e exploração da propriedade intelectual. Estas actividades incluem, por exemplo: Arquitectura e Artes Visuais; Design de Moda e de Mobiliário; Design Gráfico e Publicidade; Cinema, Vídeo e Multimédia; Software Educacional e de Lazer; Artes Performativas e do Espectáculo; Escrita e Edição, etc, etc.
As indústrias criativas representam hoje 2,6 por cento do PIB da Europa a Quinze – mais do que os sectores do imobiliário, alimentar ou têxtil – e registam um volume de negócios superior ao movimentado pela indústria automóvel. Sublinhe-se que, em 2004, as indústrias criativas empregaram 5,8 milhões de cidadãos em toda a Europa e que, entre 1999 e 2003, o sector cresceu 19,3 por cento – mais do que a própria economia europeia.
A estes resultados não será estranho o facto deste sector de actividade, pela sua natureza, ser mais adaptável aos desafios futuros, uma vez que está focado na geração de valor acrescentado, tem formatos de trabalho flexíveis e opera com base na inovação e no conhecimento. Por outro lado, este sector tem a capacidade de criar cidades com imagem forte e atractiva, cosmopolitas, tolerantes, amenas, com melhor qualidade ambiental. De facto, o desenvolvimento das indústrias criativas não é apenas uma aposta no crescimento económico, na inovação e na qualificação das pessoas, é também uma aposta na qualidade de vida das cidades e dos cidadãos.

Supor-se-ia, portanto, face ao Estudo da Parque Expo, que a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia decidiria apostar claramente nas indústrias criativas, através da constituição de uma Estrutura que aglutinasse e desenvolvesse projectos desenhados por núcleos de produção emergentes. Até porque a acumulação da massa critica conseguida pela diversidade de projectos permitiria a aquisição partilhada de equipamentos de ponta e a organização de iniciativas de grande impacto e visibilidade que isoladamente será muito mais difícil de gerar.
Para além de lugares privilegiados para a criação, aqueles núcleos de produção poderiam ser também observatórios das actividades em causa e espaços de circulação de empreendedores, públicos, ideias, informação e conhecimento. Acresce que estes núcleos poderiam ser motores de parcerias com o ensino, com a ciência, com instituições de investigação, e facilitadores do escoamento de produtos através do acesso a redes de distribuição e a eventos internacionais.

As indústrias criativas, marcadas pelo conhecimento, pela tecnologia, pela inovação e pela imaginação, encontrariam um terreno fértil na frente ribeirinha, no Centro Histórico de Vila Nova de Gaia, zona onde já existe um forte potencial turístico há muito desperdiçado por incúria e ignorância, que, por sua vez, daria origem ao aparecimento de diversos clusters voltados especificamente para aquele segmento económico.
Mas… Não! Em vez de uma aposta estratégica com visão de futuro a longo prazo, o Município liderado por Luís Filipe Meneses e pelo seu delfim Marco António Costa anunciou, com grande ressonância mediática, o início da edificação de um Centro Urbano de Lazer num terreno com cerca de 1170 metros quadrados (área de construção: 7020 m2), onde outrora funcionou uma Fábrica de Materiais para Navegação, entre as ruas de Guilherme Gomes Fernandes e de Santa Marinha.
Para além desta Unidade Privada, que se propõe oferecer (vejam lá o interesse...) Bowling e outros Jogos (?), Bares e uma Discoteca, a que se junta (mais) um Restaurante e um Parque de Estacionamento, empreendimento que proporcionará no total 30 (!!!) postos de trabalho, a Câmara fala em instalar numa daquelas ruas uma espécie de “segunda Miguel Bombarda” (mais um mimetismo do Porto!...) e a construção de um Centro Cultural (promessa que já tem “barbas”, como o pai natal – em quem também já ninguém acredita!...), nas antigas instalações da Real Companhia Velha.
Para agravar este cenário desastrado de gente de “vistas curtas”, a Edilidade insiste em instalar os serviços técnicos e administrativos da GaiUrb no Convento Corpus Christi, um monumento que, cruzando sinergias com a revitalização das infra-estruturas Zé da Micha, Mercado Municipal e o futuro (?) Centro Cultural, poderia constituir-se no equipamento-âncora de afirmação de Vila Nova de Gaia como pólo urbano de criatividade, inovação, conhecimento, ciência e cultura de referência, no contexto da Grande Área Metropolitana do Porto.

Como se vê também agora pela forma como se “treslê” o “Masterplan”, o futuro que se deseja para o Centro Histórico de Gaia vai sendo adiado “sine die”, não por falta de financiamento da Administração Central, argumento em que se escuda com inusitada frequência o vice-presidente Marco António Costa, mas sim por falta de uma visão política estratégica que responda aos grandes desafios do futuro e... por uma “cegueira funcional”, eleitoralista, populista e demagógica, que não deixa que a Autarquia veja nada para além de um horizonte temporal que se desvanece nas eleições de 2009!

Nós não queremos um futuro que se esgote tão cedo. Os nossos governantes obrigam-se a ter a ambição de olhar mais longe!...