Friday, August 01, 2008

O EMBUSTE CULTURAL DE GAIA

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Os meus piores receios confirmaram-se: o prometido Centro Cultural de Gaia não passa de um embuste. A sua construção começou por ser anunciada em 2001, para as antigas instalações da Real Companhia Velha, em pleno Centro Histórico, ocupando uma área total de dez mil metros quadrados, com espaços destinados à cooperativa Cinema Novo (Fantasporto), ao Hot-Club e ao Teatro Experimental do Porto (TEP), para além de um auditório capaz de albergar duas mil pessoas. Quatro anos depois, o projecto seria novamente anunciado com grandes alterações, projectando-se então a construção de um hotel, um parque de estacionamento, uma vasta área para estabelecimentos de “comida rápida”, um conjunto de lojas comerciais, um pequeno auditório e treze (!!!) salas de cinema.

Mas as alterações não se ficaram por aqui. Volvidos mais dezoito meses, no dia em que foi lançada a sua primeira pedra, aquela infra-estrutura mudou até de nome! Passou a denominar-se “Cais Cultural”, manteve o hotel, o parque de estacionamento, o espaço de restauração e as restantes valências comerciais, mas suprimiu os cinemas. O próprio presidente da autarquia de Gaia revelou alguma dificuldade em justificar as mudanças ocorridas no projecto ao longo destes últimos sete anos, sentindo-se na obrigação de afirmar que o TEP e a cooperativa do vereador Mário Dorminsky (!...) terão instalações garantidas noutros espaços do Centro Histórico. A verdade é que, no que respeita à sua componente cultural, aquele novo equipamento conserva apenas do “projecto original”… um auditório.

Porém, nada me diz que o auditório que resistiu à ignorância cultural e ao evidente sentido mercantilista do “dono da obra” não venha a ser basicamente utilizado como palco de realização de congressos, conferências, colóquios, debates e iniciativas afins, por falta de um eficaz programa de áreas e de equipamentos adequados ao cumprimento daquela que deve ser a sua principal vocação: produzir e acolher os mais diversos espectáculos, da dança ao teatro, da música ao novo circo, do cinema à multimédia, do vídeo às artes performativas. Alguns dos exemplos mais recentes de auditórios construídos ou recuperados no concelho de Vila Nova de Gaia, assentes em projectos arquitectónicos de fraca qualidade ou mesmo feridos de grave incompetência técnica, fazem-me temer o pior.

Projectar um auditório constitui um desafio de uma complexidade conceptual significativa, que obriga a uma articulação rigorosa de diversas valências e à coordenação de inúmeros projectos, a que muitos arquitectos se esquivam frequentemente. Trata-se de conceber e conciliar a arquitectura generalista com um grande conjunto de especialidades, como a arquitectura de cena, os mecanismos electrónicos de palco, a engenharia acústica e térmica, a iluminação cénica, as salas de criação e ensaio, as oficinas de construção, os espaços de direcção e controlo cénico. Além disso, há que satisfazer as exigentes normas de segurança, a definição clara de espaços e circuitos de públicos, de artistas e técnicos, a qualidade espacial e o conforto visual de todos os envolvidos.

Compete ao “dono da obra” definir um programa preliminar e os parâmetros do projecto, de acordo com a utilização pretendida, porque é na especificidade e nos condicionalismos de cada projecto que se define uma estratégia de intervenção. No caso dos auditórios, a carga técnica e a organização funcional é tão complexa como noutros edifícios, com a diferença que está mais concentrada espacialmente na “caixa do palco”. Isto sem esquecer que uma das particularidades destes equipamentos centra-se na sua relevância social, tanto na carga simbólica da sua inserção urbana, como elemento de referência na cidade e no imaginário das populações, como nos modos de uso do espaço interior, onde se aspira a um espaço representativo (o espectáculo) que promova o acto social critico (o debate, a reflexão…).

Espero muito francamente que alguém com responsabilidades no projectado “Cais Cultural” leia estas minhas linhas e desperte para as questões aqui suscitadas, evitando, assim, que seja construído no concelho de Gaia mais um auditório incapaz de abrigar uma programação artística inovadora, cosmopolita e centrada no apoio à criação contemporânea, que aprofunde relações privilegiadas com a comunidade e abra novos horizontes aos públicos e aos artistas mais jovens... Ou será que estamos condenados a uma programação ditada por uma visão economicista da cultura, ao arrepio da Convenção ratificada em Bruxelas, no passado dia 18 de Dezembro, pelos Estados-membros da União Europeia sobre «a protecção e promoção da diversidade das expressões culturais»?...

2 Comments:

Blogger ASGuimaraes said...

TANTA COISA QUE É NECESSARIO MAIS IMPORTANTE QUE CRITICAR SE ALI OU AQUI VAO SER EDIFICADAS CENTROS CULTURAIS OU TEATROS E TEATRINHO ONDE ESTAO AS FORÇAS DE OPOSIÇAO E SUAS VERDADEIRAS POLITICAS DE APOIO A POPULAÇAO QUE SE SENTE ISOLADA QUE SENTE A SER EXTERMINADA A CRITICA VAIS PARA OS EXECUTIVOS DA CAMARA MAS UMA COISA TEM QUE SER DITA ESTE PRESIDENTE TIROU GAIA DO MARASMO BEM OU MAL TEM FEITO BENFEITORIA SAQUI NO CENTRO HISTORICO DE QUE MUITOS FALAM MAS QUE POUCOS CONHCEM A REALIDADE PORQUE SO SE CRITICA POR CRITICAR MAS N VEMOS NINGUEM A VIR AO TERRERNO E QUANDO O FAZEM VÊM COM A IMPRENSA E ASSIM DIZEMOS QUE É PARA IMPRENSA VER ALIAS A NIVEL DE IMPRENSA SO EXISTE UM JORNAL QUE COM IMPARCIALIDADE FAZ REPORTAGENS QUE É O j.n. A UMPRENSA LOCAL É RIDICULA ...OCISAS BÁSICA QUE SAO PRECISA E A PRIMEIRA É PRECISO GENTE ESSA GENTE GENUINA QUE DAQUI TIRARAM DAQUI E UMA VERDADEIRA RENOVAÇAO DAS HABITAÇOES O RESTO VEM DEPOIS... UM GRUPODE MORADORES A UNS ANOS REALIZOU UMA MANIFESTAÇAO HOUVE AGRESSOES POLICIAIS REVINDICAÇOES JUSTA MAS O FACTO É QUE NINGUEM VIU E OUVIU OS PARTIDOS DA CHAMADA OPOSIÇAO A COMENTAR AGORA CIRCULA UM COMUNICADO QUE SE ESPERA NAO HAVER OPORTUNISTAS....BEIRA RIO SEMPRE…………….

Nós abaixo assinados, tristes e enganados por quem quase diariamente afirma na comunicação social do apoio ao cidadão, com medidas e acções que visam essencialmente o bem estar e o desenvolvimento social das populações, bem como e ao que nos diz respeito mais directamente á reconversão urbanística da zona critica do CENTRO HISTÓRICO.
Sentimo-nos enganados com esta política de abandono que escudada na melhoria de condições de habitabilidade deu lugar a uma das maiores “deportações” de habitantes de um CENTRO HISTÓRICO PARA BAIRROS SOCIAIS (autênticos focos de instabilidade social, como se tem verificado ultimamente…). Durante todos este espaço temporal nenhuma família foi realojada aqui no C. H. e concerteza nunca o irá ser.
Chegou-se ao cúmulo da prepotência ou vaidade (porque é moda e dá perfil ter gabinetes nesta zona????) de se desalojar duas famílias num prédio propriedade da CAMARA sito na rua GUILHERME GOMES FERNANDES, para ali ser instalado um departamento da CAMARA MUNICIPAL e tendo a Edilidade um prédio na RUA CANDIDO DOS REIS restaurado de raíz (prédio da TUNA) totalmente desabitado preferiu realojar essas famílias em bairros sociais.
Interrogamo-nos que política é esta de habitação de apoio ás comunidades locais??? Quase que afirmámos que nos querem aniquilar, expulsar, deportar, hostilizar ou seja que forma de adjectivar tal aberração, simples e directo: GRUPOS ECONÓMICO E ESPECULAÇAO IMOBILIARIA.
Com toda esta desertificação, o COMERCIO tradicional e local ressentiu-se e entrou em crise, as colectividades deixaram de ter associados o que era um local, uma terra pejada de gente, onde se sentia alegria de viver deu lugar a um sitio amorfo que de vez em quando arrebita por este ou aquele evento(não nos referimos ao super acarinhado local privado denominado “cais de gaia”, mas até aí se sente a crise …porque não animação da Ponte ate ao Estaleiro???).
As medidas de esvaziamento continuam á uns meses atrás foi a transferência do funcional posto dos CTT da RUA CANDIDO DOS REIS sitio com mais vivencia da zona, para o minúsculo gabinete no Convento e para culminar , a aberrante ideia de pseudo restringir o acesso ao miolo do CH. Pseudo porque só vai restringir a passagem de todos aqueles ex moradores que aqui continuam a socializarem –se, aos familiares que cá vêm visitar os seus pais avós e irmãos e também a todos aqueles que recorrem ao já de si debilitado comercio: (FARMACIA-MERCEARIAS-AGENCIAS FUNERARIAS-DROGARIAS- CAFES COLECTIVIDADES ETC ETC.)
Questiona-mos o porquê destas medidas, alegam que é para normalizar o transito quando o que é necessário é fiscalização. Refutamos a questâo da insegurança pois esta terra é das mais seguras do PAÍS….Algo deve estar por trás destas medidas e sopra-nos uma ligeira “BRISA” de certezas….
Srº. PRESIDENTE reveja toda esta situação, o SRº no deve e haver ainda tem crédito, mas só o SRº é que o tem porque os seus vereadores não são bem vindos, são falsos pagadores de promessas. O Vice –Presidente não tem a noção do que foi esta terra pois se tivesse nunca teria afirmado a um jornal de que não estava muito preocupado com o realojamento no C.H. porque este nunca teria sido densamente povoado simplesmente ridículo. O VEREADOR DO DESPORTO com pompa e circunstância anunciou que se iria dar inicio a construção do tão prometido pavilhão desportivo da Escola eb 2/3 SANTA MARINHA, até pasme-se anunciou a construção do maior complexo de ténis do PÁÍS ( quando a esmola é grande o pobre desconfia…) mais uma vez os nossos filhos, netos e jovens vão sentir na pele a desigualdade na prática desportiva na escola.
Não estamos contra o investimento dos grupos económicos, não estamos contra o desenvolvimento, queremos é crescer com ele. Queremos que todos aqueles que têm trabalho precário e sazonal sejam absorvidos pelos postos de trabalho que têm sido anunciados .
Por tudo acima referido e muitas mais situações dizemos BASTA…porque ama-mos a nossa TERRA E ACREDITEM VAI SER DIFÍCIL DE NOS TIRAREM DE CÁ. Até o nome nos tiraram de “BEIRA RIO” para “CAIS DE GAIA”…MAS NÃO NOS TIRAM A ALMA.
Acreditámos no diálogo porque é a base do entendimento.
Esperamos resposta.

10:14 AM  
Blogger ASGuimaraes said...

tb queria dar os parabens pela forma "brilhante" que encontrou para com as mesmas ideias que sao transcritas no comunicado beirario sempre....... conseguiu criar um texto que parece ser inedito... nós aqui na beira rio temos ideias proprias...n precisamos depois de as apresentar outros se aproveitem dela... os seus textos têm conteudo concerteza que os saberá encontrar sem plagiar ideias

10:37 AM  

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