SANTA MARINHA, MEU AMOR

Thursday, December 28, 2006

CENTRO HISTÓRICO DE GAIA: DE PROJECTO EM PROJECTO... ATÉ À CAMPANHA ELEITORAL!!! (PARTE V)

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Algumas semanas antes de publicitar, em anúncio de página inteira no Jornal de Notícias, as inumeráveis Obras que se propõe corporizar em 2007, onde se constata que o “mirífico” teleférico Jardim do Morro/Cais de Gaia se “apresenta” à frente de um “grandioso elenco” de promessas, a Câmara Municipal presidida por Luís Filipe Meneses fez saber que o início das obras de construção do futuro Centro Comercial, perdão!, Cultural de Gaia tem “estreia” marcada para meados do próximo ano. Este facto mereceu, aliás, o seguinte sub-título em edição recente do jornal O Gaiense: «a autarquia espera que a obra dedicada ao lazer e à diversão (sublinhado meu) esteja concluída em 2009». Esclarecedor!

Um parque de estacionamento para seiscentas e cinquenta viaturas (mais carros para o Centro Histórico!?…), uma vasta área para estabelecimentos de “comida rápida” (mais restaurantes!?... – não há fome que não dê em fartura!...), um conjunto de lojas de comércio tradicional (?...), treze salas de cinema (será que a “Cinema Novo/Fantasporto” do casal Mário Dorminsky/Beatriz Pacheco Pereira ainda lá tem reservado o lugar que lhe foi prometido há mais de quatro anos, ou “cai fora” como aconteceu com o Teatro Experimental do Porto/Museu António Pedro, que continua em bolandas, de “casa em casa”, face às constantes indecisões da autarquia? – primeiro ia para o Centro Cultural, depois para o Convento Corpus Christi, depois para a Casa Barbot …­), dois espaços com cerca de 500 m2/cada sem vocação definida (?...) e um Auditório com capacidade para quinhentas pessoas.

Mas que tipo de Auditório se pretende construir e para quê? Para a realização de congressos, conferências, colóquios, debates!?... Ou um espaço destinado às artes cénicas e performativas, habilitado a acolher e a produzir todos os tipos de espectáculos de Dança, Música, Teatro, Novo Circo…? E com que valências? Com palco, fosso de orquestra, sub-palco, varandas, teia e camarins…? Dotado de equipamento de cena, maquinaria, luz, som, vídeo…? Apoiado por uma equipa com formação capaz de responder às cada vez mais exigentes e sofisticadas técnicas de palco e de produção…? Ancorado numa programação artística moderna, inovadora, cosmopolita e centrada no apoio à criação contemporânea, que aprofunde relações privilegiadas com a comunidade e abra novos horizontes aos públicos e artistas mais jovens?...
Ou será que ainda ninguém pensou sequer nisso e a programação a desenhar para o Auditório e para os restantes espaços “culturais” do futuro Equipamento do Centro Histórico será apenas ditada por uma visão mercantilista da cultura, completamente ao arrepio da Convenção ratificada em Bruxelas, no passado dia 18 de Dezembro, pelos Estados-membros da União Europeia sobre «a protecção e promoção da diversidade das expressões culturais», de onde resulta que «passa a ser Direito Internacional o dever de os poderes públicos não tratarem os bens culturais como tendo valor exclusivamente comercial»!?...

E quem vai gerir o Auditório e os restantes Espaços “não comerciais” do Centro Cultural de Gaia? O pelouro da Cultura, Património e Turismo, a Gainima, uma nova empresa municipal (mais uma...)? Ou será que tal função será cometida à Novopca, o consórcio luso-israelita que ganhou, sem opositores!..., o concurso público lançado pelo município há já perto de três anos, e cujo contrato de concessão/constituição do direito de superfície do espaço das antigas instalações da Real Companhia Velha por um período de cinquenta anos parece apresentar contornos altamente penalizadores para a edilidade?! Se assim for, o mais certo é estarmos “condenados” a uma oferta “comercialóide”, de entretenimento e não de cultura, assente numa actividade “revisteira, pimba e ligeira”, voltada para o lucro e não para a formação de cidadãos com espírito crítico e assertivo!

Apreensivo, inquieto e preocupado com os evidentes sinais “anunciadores” de mais uma oportunidade perdida no contexto da afirmação do Centro Histórico de Gaia como um dos eixos fundamentais do desenvolvimento económico, social e cultural da Grande Área Metropolitana do Porto, prometo ficar atento à apresentação pública do projecto arquitectónico daquele novo Empreendimento da Beira-Rio, entretanto submetido mais uma vez à apreciação do IPPAR que havia recomendado algumas reformulações ao anteprojecto subscrito por uma equipa liderada pelo arquitecto Alcino Soutinho, para voltar de novo ao assunto…

Wednesday, December 06, 2006

CENTRO HISTÓRICO DE GAIA: DE PROJECTO EM PROJECTO... ATÉ À CAMPANHA ELEITORAL!!! (PARTE IV)

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Por mera coincidência ou estranha força impulsionada por uma qualquer espécie de insite emocional, no momento em que decidi debruçar-me sobre a segunda UOR do “Masterplan”, que se focaliza no Castelo/Lugar de Gaia, o berço do concelho, a quem muitos chamam “o presépio da cidade”, cada vez mais deserto, mais pobre, mais cinzento, mais frio e mais infeliz, entregue à sorte dos deuses e à incúria dos homens que governam os destinos de Vila Nova de Gaia, a iluminação pública natalícia já se acendeu, anunciando o nascimento do Menino… É (quase) Natal!
Foi aqui que nasceu Gaia, num Lugar carregado de simbolismo e misticismo, repleto de vestígios de uma história que remonta a tempos medievais. Por aqui passaram romanos, muçulmanos, galegos e outros povos, que se desvendam nas lendas de Rei Ramiro e de Santa Liberata; nas marcas do Castelo, que foi completamente desmantelado pelas gentes do Porto, em 1386; na Capela do Bom Jesus de Gaia, que foi sede episcopal dos Suevos, anterior à do Porto, e fundada por S. Basílio; na Fonte que se “esconde” na Quinta do Conde de Campo Bello, pertença dos descendentes dos senhores de Gaia, linhagem iniciada por Álvaro Anes de Cernache…

Os técnicos da Parque Expo que elaboraram o “Masterplan” afirmam que «os vestígios arqueológicos do Castelo de Gaia, a morfologia do terreno e respectivo sistema de vistas (miradouro privilegiado sobre o Rio e a Cidade – digo eu!) assumem-se como as grandes potencialidades desta área, justificando a reabilitação do edificado existente e a qualificação do espaço público como forma de revitalização da zona», ao mesmo tempo que sublinham «a riqueza paisagística da Quinta do Conde de Campo Bello», onde sugerem «o desenvolvimento de novas actividades, nomeadamente associadas ao turismo».
Convém referir que o Estudo/Diagnóstico efectuado pelos técnicos da Parque Expo assenta em valores e princípios transversais a todo o Centro Histórico, de que relevo o seguinte: «A dimensão ambiental e paisagística deve ser assumida como um valor fundamental da estratégia de reabilitação (…). No que respeita à dimensão patrimonial e cultural, consideramos fundamental garantir a valorização e o reforço da identidade única do território através da revitalização e reabilitação do património, em todas as suas vertentes: natural, histórica, cultural e económica (…). No que respeita à dimensão socio-economica, haverá que criar condições para promover a fixação da população, designadamente através da reabilitação das áreas habitacionais existentes (…)».

O “Masterplan” não é mais do que um projecto, uma visão global sobre o Centro Histórico, um conjunto de macro-propostas que precisa de descer a plataformas estratégicas de actuação, ao passo-a-passo de acções coordenadas, visíveis e capazes de empolgar e entusiasmar a cidade e os cidadãos. Mas até agora o que se viu no Lugar de Gaia por parte de quem decide foi nada, absolutamente zero! Ou melhor, o que se vê é um povoado quase deserto, degradado e votado ao abandono, com grande parte do seu património edificado em risco de ruína, constituindo um autêntico atentado à segurança pública.
As pessoas que lá viviam e foram deslocadas para outros locais com a promessa de retornarem ao seu “presépio” continuam, até hoje, à espera de notícias que as empolguem e as entusiasmem. O regresso ao “seu” Lugar de Gaia é o que elas mais desejam! Mas não só: gostariam, como todos nós, que a Câmara respondesse a muitas perguntas… Que futuro para o morro do Castelo? Que futuro para a antiga Corticeira? Que futuro para o Monte da Fraga? Que futuro para a Quinta do Vale da Piedade e para a Casa da Bela Vista? O que será preciso fazer ou dizer mais para que se deixe de delapidar tanta história, tanta memória, tanta riqueza natural e paisagística? Quando será que os nossos governantes serão capazes de nos empolgar e entusiasmar?...

Será que as lendas de Rei Ramiro e de Santa Liberata não contêm só por si um potencial mais do que suficiente para dinamizar social, económica e culturalmente o Lugar de Gaia? Será que a valorização do património histórico e cultural não é um importante factor de criação de condições de crescimento local, da fixação das populações e de incremento das actividades económicas? Será que a oportunidade que nos oferece o Lugar de Gaia de ser um dos principais motores de desenvolvimento do Centro Histórico, pelo interesse turístico que pode despertar, não é fortemente motivador da prioridade a dar à sua requalificação?...

Será que a Câmara do Dr. Meneses e do seu “escudeiro” Marco António Costa continua sem dar resposta a tantas interrogações apenas por falta de imaginação e de criatividade?... ou será que outros interesses se escondem por detrás desta aparente apatia?!...