Friday, October 03, 2008

O OUTRO LADO DO CENTRO HISTÓRICO E O NOSSO SILÊNCIO CÚMPLICE

salvadorpereirasantos@hotmail.com

O discurso político da Câmara de Gaia para o Centro Histórico atinge as raias do absurdo. Enquanto anuncia empreendimentos turísticos de excelência, hotéis de charme, centros comerciais travestidos de “culturais” e complexos habitacionais de luxo, desabam tectos de residências de gente modesta. Esta semana aconteceu a derrocada de mais uma parte do telhado de uma “ilha” da rua Cândido dos Reis, que obrigou ao desalojamento de seis pessoas, contribuindo assim para uma maior desertificação da beira-rio profunda. Estes concidadãos serão deslocados para equipamentos sociais em zonas periféricas, às quais não se lhes prendem quaisquer raízes e onde se sentirão como autênticos “intrusos”. Como eles, são já largas dezenas de santamarinhenses que enfrentam esta traumatizante situação.

A derrocada do telhado daquela “ilha” há muito que se previa, sem que a Câmara (ou a Junta de Freguesia…) mexesse “uma palha” para resolver o problema. O estado de ruína no interior do imóvel era evidente. Uma parte do telhado já não existia há muito. As traves de sustentação não garantiam segurança. As paredes apresentavam sinais de patologias irreversíveis. Perante este cenário, uma das famílias agora atingidas chegou a solicitar o apoio da empresa municipal Gaia Social e a alertar a Junta de Santa Marinha para a iminente ruína do imóvel. No primeiro caso, obteve como resposta que não havia habitações sociais disponíveis (talvez daqui a vinte anos – disseram!...). No segundo caso, conseguiu apenas a compreensão dos autarcas e a promessa de que tudo fariam para resolver aquela delicada situação. E o resultado foi o que se sabe!

Quem passa pelo Cais de Gaia e saúda aquela premiada obra de requalificação do espaço público, executada pela Administração dos Portos do Douro e Leixões e anunciada por Luís Filipe Menezes como “coisa sua”, não imagina que no interior da malha urbana do Centro Histórico existam muitas outras habitações em situações semelhantes (ou piores) à que se verifica na "ilha" da Cândido dos Reis. Muitos dos prédios não têm condições mínimas de segurança e de salubridade para albergar seres humanos! E são largas dezenas de pessoas de escassos recursos, grande parte delas de idade avançada e com dramáticos problemas de saúde, que sobrevivem em espaços escuros e húmidos, situados paredes-meias com prédios desocupados e destroçados pela degradação, votados ao abandono pela autarquia e à beira da derrocada!

Escondidos dos olhares dos turistas, estes imóveis e a humilhante situação em que vivem muitos dos nossos concidadãos são a vergonha de Vila Nova de Gaia! Mas este cenário não envergonha apenas quem governa o concelho. Todos nós nos devemos sentir envergonhados! A nossa vergonha deve-se à demissão, à passividade e à omissão. Vemos o que se passa em nosso redor e não nos indignamos. Reprimimos a nossa revolta e voltamos a cara à realidade, como se grande parte da culpa do que acontece não fosse também nossa. Ou melhor, a culpa é verdadeiramente nossa! O que (não) tem sido feito ao longo destes últimos anos no Centro Histórico e o que se ameaça fazer nos próximos tempos, há muito que justificaria a nossa rebelião. Somos cúmplices com o nosso silêncio. Não podemos continuar calados!...

1 Comments:

Blogger Filipe Santos said...

Hoje a nossa Beira-Rio, a nossa Santa Marinha ficou mais pobre... Um até sempre... Fernando Peixoto

7:06 AM  

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