Tuesday, October 09, 2007

A ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA DA SAÚDE EM GAIA – CONFUSÕES, DÚVIDAS E APREENSÕES…

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Confesso que estou baralhado. Há pouco mais de uma semana, a imprensa noticiava que a Escola Superior de Tecnologia da Saúde, do Instituto Politécnico do Porto, iria instalar-se num prédio cedido pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, com cerca de sete mil metros quadrados, perto da Ponte da Arrábida e da VL 2. Agora, a Câmara diz que a empresa municipal Gaianima procura um edifício no Centro Histórico com condições para acolher aquela unidade de ensino. Para aumentar ainda mais a confusão que reina no meu inquieto espírito, a edilidade faz saber que a Escola Superior de Tecnologia da Saúde tem de estar a funcionar em Gaia no próximo mês de Março!

De acordo com o protocolo celebrado entre o Instituto Politécnico do Porto e a Câmara de Gaia, compete à autarquia encontrar em tempo útil (de imediato, diria eu!) um edifício integrado numa zona que permita ampliação futura das instalações da Escola até 14 mil metros quadrados de área bruta. Por outro lado, o imóvel deve reunir condições adequadas ao ensino e à investigação na área da saúde, proporcionando, designadamente, a montagem de espaços laboratoriais, de fisioterapia e de imagiologia. Ou seja, a Câmara de Menezes e a Gaianima têm pela frente um desafio difícil, que requer urgência na decisão e extremo cuidado no estudo de enquadramento ambiental.

Não é fácil encontrar no conjunto do edificado da malha urbana do Centro Histórico um imóvel com a dimensão e as características aconselháveis ao fim pretendido e parece-me extremamente importante que aquele estabelecimento de ensino superior se fixe nesta área. Fala-se na sua implantação numa das velhas Caves de Vinho do Porto e fico apreensivo. Temo sinceramente que se cometa uma réplica do “crime” que se projecta para as antigas instalações da Real Companhia Velha, à beira-rio (sou dos que defendem a construção naquele espaço de um Centro Cultural, sério, autêntico, mas desde que isso não ponha em causa as marcas da história que nos distingue como cidade).

Gaia possui o melhor e mais completo conjunto de Caves, a nível mundial, e a Câmara tem o dever de o proteger. O adiamento “sine die” do anunciado propósito da sua candidatura a Património da Humanidade representa apenas um exemplo de insensibilidade e ignorância cultural de quem governa a cidade. Poder-se-á admitir a revocação de algumas Caves, mas não se deve permitir a sua demolição ou quaisquer alterações na sua morfologia. Se queremos merecer a nossa história, urge preservar aquele rico bem identitário, mesmo que, nalguns casos, no seu interior se promova o ensino e a cultura em lugar de conservar o néctar que nos projecta no Mundo há séculos.

Atrevo-me a recordar que existe um espaço na Escarpa da Serra do Pilar que me parece ideal para a Escola Superior de Tecnologia da Saúde. Exactamente o local onde, há seis anos, Filipe Menezes publicitou criar um “Fórum de Liberdades Cívicas”, e onde, igualmente, dois anos depois, equacionou apoiar a instalação de uma Escola/Oficina de artes e ofícios do Espectáculo, e onde, também, mais recentemente, anunciou erguer um Grande Auditório!... Como se vê, para aquele lugar não têm faltado promessas e processos de intenção, que não têm passado disso mesmo. Na verdade, ali, como noutros lugares do Concelho, “Gaia é Obra” feita apenas de muito e diverso “paleio”!...

A criação de um estabelecimento de ensino superior na Serra do Pilar implicaria forçosamente a requalificação daquela zona, com os naturais benefícios que daí resultariam para a população residente, que há muito aguarda uma resposta da Câmara aos problemas que enferma toda a área (a consolidação dos elementos naturais, a regularização do quadro edificado, a construção de arruamentos, a instalação da rede de água e saneamento permanecem sem solução à vista…). Eu sei que uma obra desta natureza e amplitude não se realiza em quatro meses, mas se ela for faseada e bem coordenada podemos ter a Escola e a indispensável rede viária concluídas em Fevereiro!

Sublinho que a “grelha curricular” da Escola Superior de Tecnologia da Saúde envolve treze cursos, que fazem movimentar cerca de três mil alunos, cento e cinquenta docentes e vinte profissionais de outras áreas ligadas ao seu funcionamento. Acrescento que estamos perante um investimento estruturante para Gaia, porque, como muito bem diz Luís Filipe Menezes, «num projecto de cidade, o Ensino Superior é determinante». Na verdade, não pode haver um verdadeiro desenvolvimento sustentado sem a participação destas instituições de inquestionável interesse público, não só pelo que representam em termos económicos mas também pelo que significam nos domínios do social.

O presidente da Junta de Santa Marinha não pode ficar alheio a esta oportunidade de ouro para a requalificação da Serra do Pilar e revitalização do Centro Histórico. Compete-lhe acompanhar de perto todo este processo e, pelo menos, evitar que a Escola se fixe fora dos limites da freguesia. A Escarpa da Serra do Pilar, junto à Ponte Luís I (no lado oposto à instalação do tão propalado Campus Escolar), parece-me uma solução ideal, exequível e de grande oportunidade social. Mas, no fundo, o que eu quero mesmo é que o projecto não aborte e a Escola Superior de Tecnologia da Saúde fique em Santa Marinha. Será que Joaquim Leite consegue finalmente surpreender-me pela positiva?

0 Comments:

Post a Comment

<< Home