Monday, November 26, 2007

O QUE SE PASSA NO CASTELO DE GAIA É UM ESCÂNDALO NACIONAL! MAS TEMOS ENTRETENIMENTO E… UM PASSAPORTE CULTURAL!

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Mário Dorminsky veio recentemente à praça pública para fazer o balanço da actividade desenvolvida pelo pelouro da Cultura, Património e Turismo de Gaia nos dois primeiros anos do seu mandato e anunciar o que se propõe realizar no próximo ano, fazendo-se acompanhar pelo presidente eleito Luís Filipe Menezes e pelo presidente substituto Marco António Costa, que, deste modo, avalizaram o vácuo, o nada, o zero, o deserto de ideias e o profundo equívoco que se instalou na Casa da Cultura. Só não percebo é como um político que aspira ser primeiro-ministro de Portugal e um homem que se perfila como candidato à Câmara de Gaia subscrevem este logro: a autarquia anda a “vender-nos” gato por lebre, ou seja, a “vender-nos” programação de entretenimento por… Política Cultural!

Em vez de um discurso rico e informado sobre a criação e a fruição cultural, mobilizador dos agentes locais e dinamizador de formas de interacção com o movimento associativo, a comunidade científica e o universo escolar, Dorminsky resolveu tirar da cartola um “Passaporte”, que só existe nas cidades e em festivais de grande e diversificada oferta cultural… De seguida, com indisfarçável orgulho, anunciou para os próximos tempos a realização de vários festivais de música, diversas exposições e inúmeras iniciativas de animação ao ar livre, com ranchos, tunas, fanfarras e feiras rurais!... São tantos os eventos com a chancela do pelouro da Cultura que não percebo se o vereador está a brincar connosco ou se, pelo contrário, está mesmo convencido de que isto é… Política Cultural.

Estamos muito mal. A Cultura não pode ser entendida como um simples somatório de artes performativas ou expositivas formatadas para o gosto “popular”, onde se valoriza sobretudo o lado lúdico e de puro entretenimento, como parece ser o caso, com o poder político a arrogar-se no direito de se substituir aos programadores culturais. Nos dias de hoje, no mundo da globalização, em que a Cultura é um factor chave na afirmação da competitividade, sustentabilidade, diferenciação e identidade dos povos, temos que ter sobre a actividade cultural um olhar muito mais versátil e abrangente, que estabeleça como prioridade a educação e a criação de massa critica; a requalificação do património edificado e natural e o crescimento do seu usufruto; e a defesa e a promoção da nossa língua.

Precisamos da implementação urgente de uma verdadeira Política Cultural, que dedique particular atenção à preservação da nossa identidade intelectual e cultural nas suas mais diversas vertentes, contribuindo para a reanimação de uma cultura regional rica de muitos séculos, completamente votada ao abandono; que estimule e aumente a auto-estima de um povo que ao longo dos tempos nunca se deixou vergar às culturas “impostas” e sirva de alavanca para uma criação artística inovadora e contemporânea, em articulação com a ciência e as novas tecnologias; que incentive a produção de objectos artísticos e apoie os agentes, artistas e criadores locais, tendo em conta o papel crucial das artes e da cultura no desenvolvimento de uma sociedade mais lúcida, exigente e interventiva.

Uma sociedade esclarecida, critica e participativa é capaz de levantar a voz para dizer, por exemplo, que o que se passa no Castelo de Gaia é um escândalo nacional, e isso não convém ao poder instalado porque incomoda. Neste caso particular, incomoda porque denuncia uma das muitas verdades indesmentíveis que ensombram a vida cultural do Concelho. O Castelo de Gaia representa um dos maiores potenciais arqueológicos da região e Dorminnky ignora o facto de uma forma irresponsável, como faz, aliás, com outros achados que nos ajudam a reconstruir a história que nos precedeu e sobre a qual erguemos a nossa cidade. É o que sucede com o centro produtor de cerâmica descoberto na rua do Soenga ou com o espaço cemiterial desvendado recentemente na Quinta de São Marcos.

Mas há mais, muito mais. E não é preciso “sair” de Santa Marinha nem da área do Património para se perceber a dimensão dos casos de lesa cultura que proliferam por todo o Concelho sem que o vereador da Cultura, Património e Turismo actue pronta e determinadamente, como é seu dever. A Torre do Facho do Fojo, situada em Coimbrões, construída na Idade Média (Século XII), modificada no Século XVIII pelo General William Nevill, e todo o seu espaço envolvente são considerados sítio arqueológico. Mas, mesmo assim, foram lá realizadas obras sem qualquer tipo de acompanhamento arqueológico, que destruíram o contra-forte da Torre para a construção de uma Pista para motos!... Entretanto, parte do Convento Corpus Christi foi transformada em sede de uma empresa municipal!...

Recordo apenas mais dois casos reveladores da enorme ignorância e incompetência que grassa na vereação da Cultura. O antigo Complexo Fabril das Devesas, considerado um dos melhores exemplares do património industrial existentes em Portugal, continua a degradar-se de forma irremediável sem que se conheça um pensamento, uma ideia, um projecto “subscrito” por Mário Dorminsky que vise a sua recuperação. Nas instalações da Real Companhia Velha, à beira-rio, vai nascer uma aberração chamada Centro Cultural, que nos envergonha a todos e indicia completo desprezo por uma directiva recente da União Europeia de onde resulta que «passa a ser Direito Internacional o dever de os poderes públicos não tratarem os bens culturais como tendo valor exclusivamente comercial»!...

E, para terminar, que a escrita já vai muito longa, deixo uma pergunta. Alguém sabe o que se passa com a tão propalada Candidatura das Caves de Vinho do Porto a Património Mundial da UNESCO, que foi utilizada como bandeira eleitoral de “Menezes e compª.” nas Autárquicas de 2005? A resposta só pode ser uma destas duas: ou o vereador da Cultura tem todo o seu tempo ocupado com a programação e realização de eventos, não lhe restando espaço na sua agenda de trabalho para pensar naquele processo de vital importância para o desenvolvimento turístico, cultural e económico de Vila Nova de Gaia; ou, então, o homem que passou alegadamente a ocupar-se daquele Dossiê (Martins da Cruz, da AMIGaia) dispensa quaisquer colaborações, porque a Candidatura… já era!!!

2 Comments:

Blogger Unknown said...

Caro conterrâneo:
Não conhecia este blog e por isso o saúdo. Também não conheço o seu autor, mas respeito-o e mais: este blog ficará desde já nos meus favoritos.
Há muito que isto fazia falta. Compreendo as críticas ao vereador, mas gostaria de recordar-lhe que além da Câmara (que tem 24 freguesias para colher votos) há também um órgão que passa incólume e silencioso por tudo isto: chama-se JUNTA DE FREGUESIA DE SANTA MARINHA. E não é menor a sua responsabilidade. Mas sequer dá a conhecer o seu verdadeiro património,que tem mais de 2.000 anos!
Estarei atento a este blog e desde já lhe agradeço o esforço.
E, porque não sou anónimo, aqui vai a minha identificação:
FERNANDO PEIXOTO

3:07 PM  
Blogger Unknown said...

No tempo em que o Dr. Fernando Peixoto era Presidente da Junta, ocorreram umas fortes chuvadas que provocaram um desabamento de terras, que mostrou parte de uma suposta muralha do castelo. É também certo que por cima existem muitas habitações.
Falou-se, na altura, que a proposta/orçamento que o IPAR apresentou atingia o milhão de contos -cinco milhões de euros. Fez-se o possível. Acimentou-se tudo, para não se estragar. Visto não haver dinheiro. No entanto, não me lembro de, na altura, o PS ter proposto qualquer ideia que viabilizasse um estudo, importante, sobre as descobertas.
Imagine-se o que poderia ser feito, em termos turístico, se fosse descoberto parte do Castelo e quiçá o esqueleto do Rei Mouro.
Mas se na altura o PS assobiou para o lado, o Joaquim Leite, de agora, nem sequer assobia. Pois a história que ele conhece apenas diz respeito a corridas de ciclismo.

7:00 AM  

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