Monday, November 19, 2007

TRÂNSITO CAÓTICO, ESTACIONAMENTO SELVAGEM E CASAS EM DERROCADA IMINENTE – TRÊS DRAMAS DE QUEM VIVE NA BEIRA-RIO PROFUNDA

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Alguns dos concidadãos que acompanham com regularidade e interesse este espaço de reflexão e critica, que venho animando há quase dois anos, manifestaram surpresa por ter omitido o projecto camarário de condicionamento de trânsito em algumas artérias do Centro Histórico, quando, na passada semana, me insurgi contra o aumento do número de parques de estacionamento e de parcómetros. Não foi inocente a omissão. Não fiz propositadamente referência àquela medida, por duas razões: para sublinhar agora a contradição das políticas da autarquia no domínio dos transportes e para reiterar os meus veementes protestos pela forma inqualificável como os habitantes da beira-rio profunda continuam a ser tratados por quem governa a cidade.

O condicionamento do tráfego automóvel anunciado pela Câmara é uma medida que peca por tardia e por incipiente. Tardia porque há muito que se impunha uma política dissuasora da utilização de veículos particulares na zona histórica, estupidamente contrariada neste momento pela construção de mais dois parques de estacionamento, um deles curiosamente em local que terá supostamente trânsito condicionado no futuro (ruas Guilherme Gomes Fernandes e Cândido dos Reis!!!). Incipiente porque aquele condicionamento não se devia limitar ao miolo da malha urbana ribeirinha, mas estender-se à marginal (avenida Diogo Leite), nem que fosse apenas aos fins-de-semana, devolvendo aos cidadãos, pelo menos nesses dias, todo o espaço junto ao Cais.

Para se compreender melhor as contradições em que a Câmara se enreda nas questões da mobilidade, recordo que a autarquia garantiu recentemente que irá contribuir para a redução das emissões de CO2, através da restrição da circulação de automóveis particulares e da optimização dos transportes públicos. Tal propósito não passa de puro exercício de retórica, porque as políticas implementadas apenas têm conduzido a uma forte dependência do transporte individual. Basta este exemplo: em vez de um planeamento de transportes públicos, conjugado com parqueamento gratuito nos terminais estruturantes, que responda às necessidades do cidadão, a Câmara promove a construção de novos parques de estacionamento e a implementação de mais 300 parcómetros no centro da cidade!

Entretanto, no miolo do Centro Histórico não se vislumbram quaisquer trabalhos relacionados com a instalação de equipamentos (“mecos” e câmaras vídeo) que façam prever a entrada em funcionamento do sistema de condicionamento de trânsito anunciado por Luís Filipe Menezes para Setembro/Outubro de… 2007. Quero crer que se trata de um simples erro de cálculo do presidente da autarquia e não o prenúncio de mais uma promessa adiada para as calendas. Até lá, os moradores e os comerciantes tentarão continuar a sobreviver no meio do caos, com os automóveis a entrar-lhes quase pela casa dentro e com o estacionamento selvagem a invadir-lhes os passeios, enquanto convivem com prédios degradados que ameaçam ruína iminente.

Para quem vive no interior do Centro Histórico, muito pior do que a “lei da selva” que impera no trânsito, e no estacionamento, são os inúmeros prédios degradados, semi-abandonados ou totalmente devolutos, com patologias irreversíveis, alguns transformados em coutadas de tráfico e consumo de droga, que se encontram à mercê das chuvas torrenciais e dos ventos fortes que os Invernos mais rigorosos arrastam consigo, bem capazes de deitar por terra o que resta daqueles frágeis edifícios. Sinceramente, não percebo como é que a Câmara de Gaia, que procura agora justificar 80% do seu sobreendividamento com a habitação social, permite que se mantenha no coração da cidade um cenário destes, bem ao estilo dos melhores e mais cruéis filmes de Fellini e de Almodóvar.

O Município não pode continuar impunemente a tratar desta forma leviana, insensível e quase desumana os habitantes da beira-rio profunda, como se fossem uma qualquer coisa velha e descartável ou um problema irresolúvel que urge erradicar de qualquer maneira. Eles são Gente, gente pobre e humilde, mas tão respeitável e digna quanto os demais. Não há cidadãos de segunda! Nem existem dois “centros históricos”, um para turista ver as Caves e passear ufana e alegremente junto ao Cais; e outro para gente que sobrevive penosa e tristemente sob o temor de que as casas um dia venham abaixo e se lhes abata sobre a cabeça! Só há um Centro Histórico e ele é de todos, dos que o visitam e dos que o habitam. Uns e outros merecem a mesma atenção, cuidado e… respeito!

7 Comments:

Blogger PLAUTO said...

«não percebo como é que a Câmara de Gaia, que procura agora justificar 80% do seu sobreendividamento com a habitação social, permite que se mantenha no coração da cidade um cenário destes, bem ao estilo dos melhores e mais cruéis filmes de Fellini e de Almodóvar.»
Comentário certo, além de oportuno. E real. Só é pena que não tenha merecido até agora nenhum outro comentário.
ElevemoS, pois, a nossa voz.
FERNANDO PEIXOTO

3:14 PM  
Blogger Filipe Santos said...

Concordo absolutamente com tudo o que está referido neste "post". Tenho a certeza que a Beira-Rio não é para quem vive nela mas somente para quem a visita. No entanto tenho que dizer que embora o condicionamento do trânsito seja saudável pelos motivos enumerados, também tem os seus problemas, penso que tirar, ou fechar as ruas ao trânsito também traz a desertificação ficando o Centro histórico numa espécie de ilha, num condomínio fechado não de luxo e com uma piscina Pública (rio Douro). Como eu existem muitos que tiveram que abandonar o centro histórico para encontrar habitação digna desse nome e que transmita segurança aos mesmos. Mas no entanto ao abandonar por esses motivos ficaram ainda lá os familiares, os amigos, a colectividade, o infantário, etc. Limitar a Beira-Rio às pessoas que nasceram lá é absurdo. Ter que pagar para ir ver a Avó, a Mãe, por exemplo a Tuna Musical de Santa MArinha ou então para ir à farmácia é de uma tremenda crueldade, isto porque o interesse de fechar estas ruas não é de reduzir o trânsito, a poluição sonora ou a poluição ambiental, o interesse passa pelo "sacar" mais uns tostões a quem não tem e sobretudo desertificar o centro histórico para que seja possivel futuramente construir mais empreendimentos de luxo. O que eu gostaria é que o centro histórico, as suas habitações fossem reabilitadas, requalificadas... um dia irá acontecer uma catástrofe tão grande que não sei em quem vai cair as responsabilidades...

4:29 AM  
Blogger asguima said...

Começo por saudar a sua forma de contestação á nulidade que é este Presidente de Junta, eu mais que ninguém me sinto revoltado comigo próprio pois nas 1ªa eleições em que ele foi eleito eu contribuí pela sua eleição, arrependi me e já não o fiz nas ultimas eleições autárquicas, porque sou a favor da liberdade esse SRº não o é, gosto do dialogo esse SRº não gosta, adoro a democracia esse SRº NÃO ADORA, glorifico o 25 de ABRIL esse SRº gosta do 24, é um déspota, um pequeno tirano que pensa que através do dinheiro todos são comprados, passa aos olhos dos fregueses mais humildes como um benfeitor que não vêm que os estão a usar. Com uma política de subjugação em relação á maioria que preside á Câmara Municipal ANIQUILOU OU AJUDOU A ANIQUILAR, A EXTERMINAR uma população com a saída de todo um gentio que povoava e dava vida as ruas da BEIRA RIO, sem perspectivas de retorno são deixados em bairros sociais totalmente desenraizados d toda uma forma de viver que n se coaduna com a realidade social de tais armazéns de pessoas n basta dizer que ali naqueles bairros existem casas dignas de se viver, quem dera a muitos que com pequenas remodelações prefeririam ali morarem …. Lamentavelmente continuamos a assistir a esse êxodo e recentemente com o recurso ao corpo de intervenção um morador da Rua Guilherme Gomes Fernandes (vulgarmente chamada de rua dos marinheiros) foi despeja coercivamente por se recusar sair da casa onde sempre viveu, negando as alternativas que lhe foram propostas alegando que a câmara possui habitações vagas na beira rio que poderiam servir para o alojar (referia-se as habitações que se encontram vagas no prédio da sede da Tuna Musical S Marinha será que n fica mais oneroso adquirir habitações no “monte grande”…. E mais recentemente pasme – se o despudor com o argumento de que os habitantes no prédio onde funcionava o Centro de Apoio aos Toxicodependentes teriam que ser dali retiradas e realojados em bairros sociais não porque as ditas habitações estariam em perigo de derrocada ou indignas de serem habitadas, mas sim com o intuito de ali ser colocada uma repartição qualquer da CAMARA MUNICIPAL, por aqui vê-se que o interesse é mesmo tirar as pessoas do Centro Histórico, para depois toda aquele panóplia de pseudo investidores se instalarem…Primeiro foi o um Americano pela mão do ALBARRAN depois foram os ISRAELITAS, a seguir foram os russos, agora são os ingleses e os espanhóis… alias estas noticias são ciclicamente colocadas na imprensa nacional (não se pode falar na imprensa local salvando uma ou outra são meros veículos de propaganda) repetitivamente, no fim esse investimento vai ser na frente de rio em armazéns, porque o miolo do Centro vai continuar a cair,
Quanto ás restrições ao transito em algumas artérias nós população continuamos sem perceber qual a utilidade delas, talvez se vá verificar que é mais uma forma de se retirar gente das já desertas ruas, vai fazer com que aqueles ex. Residentes que foram deportados para os bairros, mas que continuam diariamente a conviver na beira-rio nos cafés que os amigos frequentam deixem de puder entrar, vai fazer com que o comercio sinta mais uma quebra, e vai ser outra vez tal como quando foi com o dístico amarelo que só permitia o acesso aos moradores mas que quem o possuía eram pessoas que nada tinham a ver com a zona…Porque é que a rua que liga as escadas da Barroca a General Torres também tem tais restrições, nasci á 47 anos na Rua Direita nem ao hospital fui, e nunca vi nenhum veículo ali a transitar alias essa rua nem para peões tem condições, quanto mais para veículos.
Para terminar e como critica uma mentira dita muitas vezes faz com que se pense que seja verdadeira, aqui na zona da BEIRA RIO não existem coutadas de consumo e tráfico de droga isso foi em tempos de uma vez por todas deixem se de essas afirmações, aqui bem pelo contrário pessoas que já se pensava que era impossível recuperarem desse flagelo que são a heroína e a cocaína conseguiram recuperar a sua dignidade, são mentiras que custam ouvir, dá sempre jeito falar de forma negativa mas não usem esse estigma porque é mentira.
Fui alertado por miúdos da beira-rio que covardemente a JUNTA DE FREGUESIA lhes cobra dinheiro para puderem jogar futebol no ringue do “Zé da Micha” que “homem” esse que dirige a FREGUESIA………
N.B. O nome “SANTA MARINHA MEU AMOR” foi retirado do movimento que contestou á dois anos numa manifestação (que a mim me custou o emprego) algumas situações que aqui na beira-rio se estavam a passar? Ou será simples coincidência? Por falar em coincidência o meu bloco BEIRA-RIO MEU AMOR
QUERIA APROVEITAR PARA LANÇAR UMA FORMA DIFERENTE DE SE FALAR DE UMA TERRA QUE TEM ORGULHO, QUE MEREÇE SER, DISCUTIDA, MODERNIZADA, MAS QUE TB TEM A CONSCIENCIA DE TER O DIREITO DE ESCOLHA, O DIREITO DE TB TER UMA OPINIÃO SOB AS GRANDES TRANSFORMAÇÕES QUE NESTES ANOS TEM TIDO E QUE VÊ CHEGADA A HORA DE SE FALAR DA PARTE QUE TOCA ÁS SUAS GENTES, AS SUAS TRADIÇOES

9:16 PM  
Blogger Filipe Santos said...

Penso conhecer o Sr. que se identifica como Esguima. è bom saber que existe alguem que partilha a mesma opinião que eu no que se refere à desertificação do centro histórico e à exploração desmedida na nossa Beira-Rio. Não vivi 47 anos na Rua Direita mas vivi 24 anos até casar, sou de uma familia humilde e que dá valor às suas raízes e hoje quando entro naquela rua não conheço nem metade daqueles que lá vivem. Casas abandonadas e em estado caótico é o que podemos verificar. No meio da Rua uma colectividade que amo e que por este caminho ficará vazia porque as pessoas estão a desaparecer a ir para longe... enquanto uns bajulavam os que se encontram hoje no poder outros previam este presente e futuro nada risonho... por isso o meu afastamento devido a esse bajulamento hipócrita e falso...mas enfim, hoje temos que aceitar o que o povo de Santa Marinha escolheu e esperar que dias melhores apareçam na esperança de entrar na rua e poder voltarm a sorrir...

Filipe Santos

1:06 PM  
Blogger asguima said...

meu caro FILIPE SANTOS, as iniciasi asguima querem dizer ABILIO DA SILVA GUIMARAES,É LOGICO QUE PESSOAS COMO NOS AMAM-MOS A NOSSA TERRA NOS SINTAMOS REVOLTADOS COM TODOS ESTE ABANDONO PROPOSITADO ALIAS ATUA FAMILIA ACABOU DE SENTIR NA PELE TAL MARGINALIZAÇO, E COM CUSTOS PREFERM VIVER E CHEIRAR ESTE AR QUE TAO LIVREMENTE O RIO NOS OFERECE, PENSO QUE COMEÇA A ESTAR NA ALTURA DE ALGO MAIS SE FAZER POR ESTA BEIRA rio que teimam em nos roubar... um abraço solidario ..visita o meu blog

10:24 AM  
Blogger ddd said...

Gosto muito de ver treinadores!!!!
Deixo duas questões!!!!
Quem tem de requalificar as casas devolutas? Os senhorios (proprietarios), os inquilinos, ou a Câmara de Gaia? É obvio que são os proprietários, mas voltamos à velha questão. Como Proprietário vou investir 50000€ na requalificação do meu imóvel, para ficar lá «o inquilino a pagar 30€ por mês?

Respeito todas as opiniões, e discussões, mas pensem pelos dois lados.

Acusar a Câmara de superendividamento, ok é correcto. Então com esses pensamentos de requalificar as casas e edifícios da beira rio, não endivida?

Quanto ao transito.... é mais um pau de dois bicos.

10:00 AM  
Blogger asguima said...

...não sei se vou atempo de responder a alguem intitulado de estrela...mas as perguntas que colocou são simples é lógico que quem tem que arranjar as casas sao os senhorios mas existem meios de a camara as fazer em relaçao ao aluguer se é senhorio é mentirosa pois as casas que hoje em dia se alugam no centro historio sao com rendas normais ou seja a volta dos 250 e 300 euros olhe eu pago de renda 350 euros ,essa de se pagar endas baixissimas é um peditório para o qual eu n dou sei que as rendas mais antigas s+ao irrisórias mas as novas rendas ou as casas que hoje em dia se alugam não o são....

7:20 AM  

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