Monday, November 12, 2007

PARQUES E PARCÓMETROS – OS CARROS TOMAM CONTA DA CIDADE E OS MORADORES SUPORTAM UMA DUPLA FACTURA (PAGAM ESTACIONAMENTO E RESPIRAM AR MAIS POLUÍDO)

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Num momento em que a esmagadora maioria dos países do espaço europeu procura restringir o tráfego de viaturas no centro das grandes urbes, de forma a contrariar o aumento da já elevada contaminação do ar, a Câmara Municipal de Gaia anuncia a construção de mais quatro (não serão seis?!...) parques de estacionamento nas duas maiores freguesias do coração da cidade. Dois deles nascerão, ao que se diz, em pleno Centro Histórico: um junto ao tabuleiro inferior da ponte D. Luís (entre a calçada da Serra e a rua General Torres) e o outro entre as ruas Guilherme Gomes Fernandes e Cândido dos Reis (será este o “tal” que se projecta para o famigerado Centro Urbano de Lazer?!...). A estes parques juntar-se ainda outro: o que integrará o futuro (?) Centro “cultural” da Beira-Rio.

Para agravar este enorme disparate, alegadamente cometido em nome de uma maior disciplina do trânsito, a Câmara decidiu ainda instalar mais 300 (!!!) parcómetros no centro da cidade. Recorde-se entretanto que a população que reside nas 82 artérias “brindadas” com esta medida apenas tem direito a estacionamento gratuito entre as 19 horas e as 9 da manhã do dia seguinte, voltando a “beneficiar” de gratuitidade apenas na hora do almoço (entre as 12 e 14 horas). Ou seja, por um lado incentiva-se o cidadão “não-residente” a levar o automóvel para o centro da cidade e, por outro, “força-se” o morador das artérias “parcómetradas” a deslocar-se para o emprego no seu carro, em detrimento da desejável utilização dos transportes públicos.

Acresce que não são apenas os cidadãos em idade activa, moradores naquelas artérias em prédios que não possuem garagem incorporada (o que acontece com boa parte dos habitantes do centro da cidade!..), que se vêem impelidos a sair com os seus veículos no período diurno (para evitar o pagamento de estacionamento). Os residentes aposentados, que utilizam praticamente apenas os seus automóveis para pequenos passeios de fim-de-semana com a família, são também confrontados com a obrigatoriedade de sair com o carro todos os dias às "9 em ponto” para não pagarem a “factura” de morarem no miolo urbano, onde os níveis de dióxido de carbono registados aconselhariam a adopção de medidas absolutamente contrárias às que são agora implementadas pelo Município.

O presidente da Junta de Freguesia de Santa Marinha afirma não ter sido ouvido nem achado nesta disparatada decisão da Câmara, com a qual diz estar em completo desacordo. Mas o curioso é que não votou contra a proposta quando ela foi apresentada e discutida em Assembleia Municipal. Absteve-se, imagine-se. Faltou-lhe coragem para votar contra! Por uma única e simples razão: o inefável Joaquim Leite sente-se extremamente dividido entre a fidelidade às políticas do seu Partido e o respeito pelos compromissos que assumiu com o povo que o elegeu. E como as duas coisas parecem inconciliáveis, enfia “a cabeça na areia” e fica à espera que a nossa memória seja tão curta que nos esqueçamos destas “acrobacias políticas” nas próximas eleições autárquicas de 2009.

Mas não se pense que as reservas do presidente da Junta a esta decisão camarária radicam na sua oposição à construção de mais parques de estacionamento em Santa Marinha. Não, não. Isso até o enche de regozijo. Naturalmente porque acha que a sobrevivência do comércio, a vitalidade das indústrias e a qualidade de vida dos cidadãos depende do automóvel. Nada mais errado. Ele não consegue enxergar que o futuro está exactamente no lado oposto, na eficiência global do transporte público, numa maior criação de artérias destinadas exclusivamente a peões, no incremento de novas ciclovias, no crescente condicionamento da circulação de veículos particulares no centro da cidade e na isenção do pagamento de estacionamento a moradores.

Acontece também que ele ainda não percebeu que esta política de “carros, parcómetros e parques de estacionamento” que a Câmara se propõe agora implementar é orientada por uma lógica puramente economicista e absurdamente desenquadrada dos nossos tempos. O Município cede o direito de superfície de cinco propriedades e põe em “leilão” o espaço público, que é de todos nós, para que uns quantos privados façam do estacionamento e parqueamento automóvel uma fonte de receita invejável que reverte a favor dos próprios, a troco de uma renda anual ainda por determinar. Esta renda pode ser muito interessante para os cofres da Câmara, mas nunca pagará os elevados prejuízos resultantes do aumento da poluição sonora e atmosférica que ajudará a degradar ainda mais a qualidade ambiental do centro da cidade!

1 Comments:

Blogger PLAUTO said...

PARQUES DE ESTACIONAMENTO:
«Dois deles nascerão, ao que se diz, em pleno Centro Histórico: um junto ao tabuleiro inferior da ponte D. Luís (entre a calçada da Serra e a rua General Torres)»
SÓ QUEM NÃO CONHECE O LOCAL PODE ACEITAR QUE POSSA CHAMAR-SE PARQUE DE ESTACIONAMENTO A UM LOCAL QUE, ALÉM DE EXÍGUO, APENAS SERVIRÁ PARA COMPLICAR AINDA MAIS O ACESSO À PONTE lUÍS I.
«e o outro entre as ruas Guilherme Gomes Fernandes e Cândido dos Reis (será este o “tal” que se projecta para o famigerado Centro Urbano de Lazer?!...)».
DE NOVO O ABSURDO NOS BATE À PORTA: AQUILO É UM ESPAÇO RECTANGULAR DE LARGURA EXÍGUA, SEM ACESSOS DE MÍNIMA SEGURANÇA, NUMA RUA JÁ DE SI ESTREITA E SEM O MÍNIMO DE CONDIÇÕES. SÓ QUEM NÃO CONHECE O LOCAL PODE ACEITAR TAL HIPÓTESE...

É, DE FACTO,FÁCIL ANUNCIAR-SE PROJECTOS, DIFÍCIL É CONCRETIZÁ-LOS, SOBRETUDO QUANDO NÃO SE ESTUDAM, COM UM MINIMO DE PORMENORES E DE CONHECIMENTO OS LOCAIS QUE SE DESTINAM A ESSES PROJECTOS.
QUANTO AO CENTRO CULTURAL DE LAZER, E DEPOIS DE TANTAS DECLARAÇÕES DE INTENÇÕES, GOSTAVA DE SABER DE QUE SE TRATA, AFINAL, PORQUE DESDE 1998 QUE TENTO PERCEBER O QUE SE PRETENDE PARA LÁ E AS PROPOSTAS QUE ME FORAM APRESENTADAS NUNCA TIVERAM O MÍNIMO DE CONSISTÊNCIA.
TAMBÉM É VERDADE QUE NUNCA A ACTUAL JUNTA DE FREGUESIA TEVE SOBRE ISTO UMA POSIÇÃO E MUITO MENOS UMA POLÍTICA CLARA.
A VER VAMOS...
FERNANDO PEIXOTO

3:27 PM  

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