SANTA MARINHA, MEU AMOR

Saturday, March 29, 2008

28 DE MARÇO FOI “DIA NACIONAL DOS CENTROS HISTÓRICOS”. EM GAIA ALGUÉM DEU POR ISSO?...

salvadorpereirasantos@hotmail.com

O Executivo da Câmara Municipal de Gaia ignorou mais uma vez o Dia Nacional dos Centros Históricos, que se celebra todos os anos a 28 de Março. É lamentável, mas natural. Que outra coisa se esperaria de homens que abandonam o Centro Histórico à degradação e à desertificação, que não conservam nem animam os seus monumentos e espaços públicos, que não percebem a riqueza que as suas casas, ruas, becos, escadarias e vielas “escondem”, que condenam ao isolamento a gente que lá habita?... Na verdade, eles querem lá saber do valor simbólico da nossa memória colectiva ou do significado histórico dos lugares!...

Eles nunca perceberam a importância do Centro Histórico. Eles não têm, nem nunca tiveram, uma perspectiva integradora do património, não apenas os aspectos materiais, mas também as características intangíveis dos bens, que se revelam na envolvente física, no contexto histórico, no uso e funcionalidade dos lugares, e o papel fundamental que estes bens desempenham na construção da identidade local. Eles nem sequer têm a noção de que os vestígios deixados pelas gerações que nos precederam são uma preciosa ajuda para o entendimento do presente e uma extraordinária alavanca para o nosso futuro!

Os homens que governam Vila Nova de Gaia ainda não perceberam (ou será que não querem perceber?...) a relevância do Centro Histórico. É tão óbvia a importância do desenvolvimento de um trabalho de conjugação dos vários bens que ele encerra, de forma a constituir uma unidade coerente e significativa, numa lógica de acréscimo e partilha do conhecimento e de divulgação para o exterior, que só não vê quem não quer ver. A sua simples integração nas “rotas culturais” ou nos “itinerários temáticos”, permitiria uma abordagem integrada e sustentada deste património culturalmente rico e único!

É necessário, é urgente, que se redobrem esforços para que estes bens sejam considerados de forma holística, atendendo a todas as suas características, materiais e imateriais. Só assim será possível cumprir cabalmente as nossas obrigações de identificação, protecção, conservação, valorização e transmissão às gerações futuras deste valioso património. A procura desenfreada do lucro ou a ignorância são algumas das muitas razões que levam à perda ou à degradação do património cultural dos Centros Históricos. É o que está a acontecer no Centro Histórico de Vila Nova de Gaia… e ninguém parece querer ver!!!

Monday, March 24, 2008

BALANÇO DE DOIS ANOS E MEIO DE POLÍTICA CULTURAL EM VILA NOVA DE GAIA. RESULTADO: NEGATIVO!

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Um grande e inesperado volume de afazeres decorrentes da minha actividade profissional impediu-me de manter, nas últimas duas semanas, a periodicidade com que venho animando este espaço de reflexão e critica exclusivamente dedicado às gentes e aos problemas de Santa Marinha, uma das maiores freguesias do País, tanto em termos demográficos como geográficos. Hoje, excepcionalmente, o tema em apreço é transversal a todo o Concelho de Gaia. Trata-se de um vector estratégico de desenvolvimento que não se pode restringir a uma parte da população do Município ou apenas a uma parcela do seu território. Estou a referir-me à Cultura, sobretudo enquanto módulo de formação e qualificação, plataforma de criação artística nas suas várias vertentes e espaço de fruição das artes e do património.

Situemo-nos primeiro no tempo. Após as eleições autárquicas de Outubro de 2005, Luís Filipe Menezes fez saber, em publicidade paga de página inteira, nos diversos jornais locais, que Gaia é «Uma Cidade de Cultura», ao mesmo tempo que Mário Dorminsky afirmava que era preciso «tirar Gaia do anonimato cultural em que vive» e prometia solenemente «colocar a cidade no mapa cultural do País». Não podia ser mais clara a disparidade quanto ao entendimento que o presidente da autarquia e o vereador da Cultura tinham da verdadeira expressão cultural do Concelho. Meses depois, as opiniões de ambos ganhavam nova clivagem. Filipe Menezes vangloriava-se das infra-estruturas culturais por si construídas e Mário Dorminsky queixava-se da falta de equipamentos adequados à realização de grandes eventos.

Cultura, para Mário Dorminsky, é apenas isto: eventos! Transformar a cidade num grande Salão de Festas, envolvendo os nomes mais sonantes do espectáculo, em desfile sobre passadeiras vermelhas, com braçados de flores de todas as cores, muita purpurina e lantejoulas: é este o sonho do vereador. Haja festa, porque o que é preciso é entreter a população, fazê-la desopilar, esquecer as agruras da vida. E é exactamente aqui que reside a diferença entre Cultura e o que ele nos quer dar. Enquanto o entretenimento nos adormece a consciência, nos afasta dos problemas e anestesia tudo o que nos dói, tanto do ponto de vista social, como a nível político, a Cultura questiona-nos, obriga-nos a pensar, eleva-nos o espírito, cultiva-nos o sentido crítico, enriquece-nos o conhecimento e estimula-nos a prática da cidadania.

Dorminsky fala de eventos, mas ainda não disse o que pensa sobre “as Artes na Educação” ou sobre “a educação pelas Artes”. E será que ele sabe que Cultura é a interacção das diversas disciplinas escolares e científicas com os demais saberes técnicos, tecnológicos e artísticos, desiderato que facilita e promove a troca de experiências e o cruzamento de conhecimentos? A ligação entre a Educação e a Cultura é, aliás, um dos pilares fundamentais de uma verdadeira política cultural. Sem esta interacção não há projecto que se sedimente, ganhe raízes, floresça. E não se pense que esta questão, determinante na elevação do nível cultural das populações, se compadece com políticas sem planeamento, meramente pontuais e executadas ao sabor do improviso ou da inspiração do momento, como tem acontecido em Gaia.

Dorminsky fala de eventos, mas não nos disse ainda qual o seu projecto ao nível da formação e qualificação para lá da rede escolar. Porque convém que tenhamos consciência de que não é apenas na Escola que nos formamos. Temos muito que aprender, por exemplo, com as marcas da nossa história inscritas em cada beco, em cada recanto das nossas freguesias, nas pedras das suas centenárias calçadas, nos seus velhos casarios e, claro, nos seus monumentos, que nos ajudam a identificar como povo. Por isso, para além do dever que temos de manter um olhar atento sobre as condições de preservação do nosso património histórico edificado, temos de realizar programas de animação e de promoção que despertem as consciências para a riqueza da nossa memória colectiva. E o que faz o vereador da Cultura nestes domínios?...

Dorminsky fala de eventos, mas ainda não nos disse nada sobre a demolição da Casa da Granja, sobre o abandono a que se votou a zona arqueológica do Lugar de Gaia, sobre o sítio de arte rupestre localizado em Canidelo, sobre o crime de lesa-património cometido na Torre do Facho do Fojo, sobre a ausência de projectos para o antigo Complexo Fabril das Devesas, sobre o ruidoso silêncio em torno da prometida criação do Núcleo Museológico dos Barcos Rabelo, sobre a sua passividade face à “destruição” da ala mais recente do Convento Corpus Christi, sobre o elevado estado de degradação de quase todo o património edificado ou sobre a inexistência de programas de animação e fruição dos jardins públicos e dos Monumentos e Lugares históricos de Gaia. Sobre estas questões, o vereador nada diz porque não sabe o que dizer.

Dorminsky fala de eventos, mas ainda não nos explicou as razões do adiamento sine die da Candidatura das Caves do Vinho do Porto a Património da Humanidade junto da UNESCO, como se exigiria a um vereador que detém igualmente os pelouros do Património e do Turismo, áreas que se articulam e potenciam mutuamente. Por que será que ele se calou quando o presidente do Executivo camarário lhe retirou tão importante dossier e o transferiu para as mãos de alguém que tem por missão captar investimentos, maioritariamente destinados à construção imobiliária no Centro Histórico? Ou será que o vereador ainda não percebeu que está a pactuar com uma atitude irresponsável e leviana que pode comprometer a preservação de um dos mais importantes e atractivos complexos arquitectónicos vinícolas do Mundo?!

Dorminsky fala de eventos, mas ainda não disse qual é a sua estratégia nos domínios do Livro. Será que ele ainda não percebeu que devia dedicar uma especial atenção à promoção da leitura e da escrita, desenvolvendo programas que contribuam para a difusão e defesa da Língua – o nosso maior bem identitário? As principais deficiências da preparação dos nossos jovens passam pela inexistência de hábitos de Leitura, problema que se reflecte também na Escrita! Os nossos jovens já quase não escrevem. E quando o fazem manifestam uma quase impossibilidade de materializar um pensamento, denotam uma ausência de capacidade de raciocínio e um vocabulário paupérrimo. É necessária uma política que estimule a leitura, a interpretação dos textos e a reflexão escrita sobre a sua mensagem. Mas a isso, o vereador da Cultura diz… nada!

Dorminsky fala de eventos, mas ainda não percebeu que temos de assegurar planos de apoio sustentado aos criadores locais, acompanhando de perto e de forma critica o trabalho por eles desenvolvido, tanto nos domínios das artes como da investigação. Temos que contribuir activamente para a construção de objectos artísticos, no domínio de todas as expressões, do cinema ao vídeo, da música à multimédia, da dança ao teatro, da escultura à pintura, da fotografia ao designer, etc, visando uma implementação real da Cultura em Gaia. Para tal, temos que desbravar caminhos de emergência que abram “auto-estradas” para a construção do edifício cultural do amanhã, que ambicionamos se traduza na criação de infra-estruturas e na constituição de condições objectivas para o desenvolvimento de um trabalho estruturante e de futuro.

Dorminsky fala de eventos, mas ignora que um dos pilares estratégicos do “edifício cultural de Gaia” deve consubstanciar-se no reforço das relações institucionais com o movimento associativo, que se tem afirmado pela sua enorme pujança nos domínios da cultura popular. No entanto, é urgente melhorá-lo e abri-lo ao futuro, através de um diálogo de perfil dinamizador que potencie, qualifique e difunda a oferta dos bens culturais que produzem. Promovendo a convivência, a interacção, a complementaridade e a programação de iniciativas conjuntas entre os agentes culturais e o movimento associativo, é possível a concertação de estratégias que enriqueçam o tecido cultural de Gaia. Esse entendimento é essencial ao aumento da oferta e ao cruzamento de culturas singulares, tão ricas e diversas, cujas identidades importa preservar e promover.

Dorminsky fala de eventos, mas ainda não percebeu que outra das fragilidades estruturais do desenvolvimento cultural de Vila Nova de Gaia resulta da inexistência de um elo de ligação à economia baseada no conhecimento e que urge criar eixos de orientação que potenciem a convergência da Cultura com a Ciência. A Investigação, a Tecnologia, a Inovação e o Conhecimento têm um papel fundamental na transformação das sociedades. Há um enorme caminho a percorrer nestes domínios, através de sinergias agregadoras em áreas como a engenharia e a tecnologia, as ciências da vida e as suas aplicações. É urgente promover a abertura e interacção das disciplinas científicas e tecnológicas com outros saberes disciplinares que baseiam a criatividade, promovendo a troca de experiências e a fertilização cruzada dos conhecimentos.

Dorminsky fala de eventos, mas não tem a mínima ideia da importância da Cultura no desenvolvimento do Concelho. Ele não sabe que é necessária a cooperação e uma maior ligação às principais redes de conhecimento mundiais, criando novas actividades e gerando ideias inovadoras que tragam novos habitantes e investimentos, com vista ao objectivo central de melhorar de forma sustentada a qualidade de vida dos cidadãos. O capital humano é o principal factor de progresso e criador de riqueza, e só através do conhecimento, a que a criatividade e a inovação acrescentam valor, se consegue garantir o crescimento e desenvolvimento de uma sociedade. A economia baseada no conhecimento é a mais competitiva, dinâmica e a única capaz de criar desenvolvimento económico sustentável com mais e melhor emprego e maior coesão social.

Dorminsky fala de eventos, mas não tem consciência de que Vila Nova de Gaia precisa de se tornar num Concelho na fronteira do conhecimento, que se projecte no país com outros meios e outra ambição. Parte significativa do desenvolvimento económico e do valor acrescentado das economias modernas tem por base o progresso do conhecimento científico e a sua aplicação em novas tecnologias. A concorrência dos mercados actuais forçam-nos a encarar a inovação como única resposta para o desenvolvimento, e mesmo para a sobrevivência económica de Gaia. Os comportamentos humanos, a organização das instituições e da sociedade e a estruturação das actividades económicas têm sofrido profundas transformações, fruto das rápidas evoluções científicas e tecnológicas a que assistimos quase diariamente.

Dorminsky fala de eventos, mas não sabe que é indispensável ganhar o desafio de dotar Gaia de mecanismos sustentáveis de crescimento económico e humano, que permitam a todos os cidadãos atingir o seu potencial máximo, visando a construção de um Concelho mais atractivo e competitivo. Gaia reúne todas as condições para tal, desenvolvendo uma estratégia de longo prazo e definindo os grandes eixos de orientação que permitirão maximizar o seu potencial criativo. Um desses grandes eixos deve assentar numa aposta clara nas indústrias criativas, através da constituição de uma Estrutura que aglutine núcleos de produção de “objectos” com origem na criatividade, no talento e nas capacidades individuais, com potencial para a geração de riqueza e emprego, que advém da criação e exploração da propriedade intelectual.

Dorminsky fala de eventos, mas parece desconhecer que as indústrias criativas constituem hoje o sector com maior crescimento e com um peso mais significativo na criação de emprego, riqueza e exportações, por estar focado na produção de valor acrescentado e operar com base na inovação. Por outro lado, este sector, que o vereador vem ignorando, tem a capacidade de criar cidades com imagem forte e atractiva, cosmopolitas, tolerantes, amenas, com melhor qualidade ambiental. O desenvolvimento deste sector não é apenas uma aposta no crescimento económico e na inovação, é também uma aposta na qualidade de vida da cidade e dos cidadãos. Para além de lugares privilegiados para a criação, os núcleos de produção das indústrias criativas são também espaços de circulação de empreendedores, públicos, ideias, informação e conhecimento.

Dorminsky fala de eventos, mas ignora que os núcleos de produção das indústrias criativas poderão ser motores de parcerias com o ensino, com a ciência, com a investigação, e facilitadores do escoamento de produtos através do acesso a redes de distribuição internacionais. Estas indústrias, marcadas pelo conhecimento, pela tecnologia e pela imaginação, encontrarão terreno fértil por todo o Concelho. Vila Nova de Gaia tem 24 freguesias, cada uma com identidade própria, mas todas com um potencial grandioso. Uma das maiores riquezas do Concelho é a sua diversidade de valores, tradições e culturas, e a sua multiplicidade de paisagens e de manchas verdes únicas. Um Concelho assim é o palco ideal para a implementação e desenvolvimento de projectos criativos e inovadores, baseados nas novas tecnologias, na ciência e no conhecimento.

Dorminsky fala de eventos… e a tudo isto diz nada! Ele não tem uma ideia, uma estratégia, uma política Cultural para o Concelho. Com a sua programação de eventos, ele apenas conseguirá manter em níveis inferiores o desenvolvimento do saber, do gosto, da sensibilidade e da vontade de criar ou de fruir arte e cultura em Gaia. Ele não sabe nada de Cultura, mas apenas de eventos, no que é secundado pelo putativo candidato da direita à presidência do Município em 2009. Ora vejam o que esse senhor diz: «Gaia é já a capital da cultura na Área Metropolitana do Porto, com uma agenda de referência na região e no país pela multiplicidade e qualidade das actividades (eventos, diria Dorminsky)». Com gente assim, capaz de afirmar tão ridículo disparate, Gaia nunca terá uma vivência cultural rica e diversificada que nos orgulhe e honre a sua história.

Thursday, March 06, 2008

A GRANDE ENTREVISTA DO “VEREADOR DO COMÉRCIO, DO LAZER E DA HOTELARIA”…

salvadorpereirasantos@hotmail.com

«Uma bomba gigantesca será notícia para o Arquivo Municipal». Foi este o título que fez a manchete do Jornal de Gaia na sua edição de 17 de Janeiro de 2008. Repescada de uma longa entrevista concedida em exclusivo pelo vereador Mário Dorminsky, aquela enigmática frase ganharia contornos ainda mais misteriosos quando o responsável pelo pelouro da Cultura, Turismo e Património da Câmara Municipal de Gaia adiantou que não seria ele a dizer concretamente do que se tratava. Referia-se, obviamente, ao facto de não lhe estar destinado o papel de mensageiro de “tão boa e explosiva nova”, mas sim ao presidente da autarquia, Luís Filipe Menezes. Redundou, porém, numa tremenda frustração a expectativa criada.

Soube no passado fim-de-semana, pelo mesmo semanário gaiense, que a tal “bomba gigantesca” não passa afinal de um tirinho de pólvora seca, sobretudo para quem pensa como Dorminsky («o que nasceu no Porto deve ficar no Porto» – diz ele na citada entrevista). Isto porque a “bombástica” notícia a que o vereador se referia no início do ano tem a ver com a possibilidade do património documental do extinto Jornal Comércio do Porto vir a integrar o Arquivo Municipal de… Gaia! Mais relevante seria garantir o depósito de todo o acervo histórico da Real Companhia Velha no Arquivo Municipal, desiderato ainda em negociações e que o vereador da Cultura parece desvalorizar. Por omissão ou ignorância?

Os sinais de ignorância e as omissões são, aliás, o que mais se evidencia na entrevista do vereador. Quando ele diz que «o pelouro da Cultura não faz mais nenhum concerto no Pavilhão Municipal, (porque) aquilo é um nojo!», o que revela? Ignorância?! É verdade que o espaço não reúne as melhores condições acústicas para alguns tipos de eventos, mas o vereador não podia ignorar esse facto ao programar concertos para o local. Ressalvo, porém, que o Pavilhão não é propriamente “um nojo”. Convém sublinhar que existem múltiplas soluções inovadoras nos domínios da engenharia acústica capazes de suprir as deficiências de comportamento do som num espaço com aquelas características. E isso não foi acautelado. Por ignorância!

Foi também por ignorância que Dorminsky nada fez para impedir que o Cine-Teatro Eduardo Brazão resultasse na aberração que agora condena e critica, dizendo que nada tem a ver com os erros técnicos cometidos. Recordo que a “primeira pedra” de requalificação daquele espaço foi lançada em Outubro de 2005 e que nesse mesmo mês Mário Dorminsky foi eleito vereador da Cultura (e do Património!...). Ainda estava a tempo de corrigir os erros do projecto. A sua ignorância técnica não justifica a passividade e a inércia. Bastaria a contratação de um engenheiro de cena ou de um técnico de palco com autoridade e conhecimentos bastantes para dizer: Parem. Estão a desbaratar dinheiro do erário público e a cometer um crime de lesa-património cultural.

Mário Dorminsky queixa-se agora amargamente de que pouco ou nada pode fazer no Cine-Teatro Eduardo Brazão, por razões de ordem técnica, designadamente por este não ter urdimento, teia, etc… e possuir apenas dois camarins. Argumenta que não percebe porque se investiu em pinturas artísticas na sala e se descurou o palco. Enfim, como se ele estivesse isento de culpas! Espero muito sinceramente que o vereador não deixe agora que se cometam os mesmos erros (ou outros) no auditório (só um?!...) e demais espaços culturais (?...) que venham a integrar o equipamento híbrido que vai substituir/destruir uma das peças mais emblemáticas do património histórico do Vinho do Porto, à beira-rio – as antigas instalações da Real Companhia Velha.

Nas palavras do vereador, ali, no coração do Centro Histórico, nascerá em Junho de 2009 (por coincidência, nesse ano há eleições!...) «um equipamento que será um centro comercial de produtos culturais e também um centro de lazer, que terá um hotel». Esta curiosa interpretação da vocação de uma infra-estrutura que começou por se chamar Centro Cultural de Gaia poderá determinar que Mário Dorminsky fique inscrito na história do Município como uma espécie de vereador do Comércio, do Lazer e da Hotelaria. Até porque, diz ele, «são catorze (!!!) os hotéis prontos a arrancar com a sua construção». Todos de quatro estrelas para cima – enaltece o vereador, sendo que, pelo menos dois deles emergirão do pouco que vai restando das Caves.

Talvez os gaienses comecem finalmente a perceber as razões porque nunca mais se ouviu falar de uma das principais “bandeiras eleitorais” de Luís Filipe Menezes na campanha para as Autárquicas em 2005: a candidatura das Caves do Vinho do Porto a Património da Humanidade. A apresentação daquela candidatura junto da UNESCO já teve várias datas anunciadas, mas vem sendo estranha e sucessivamente adiada. Porquê? Será que os investimentos privados que a Câmara tem vindo a anunciar com grande pompa e circunstância prenunciam a inevitabilidade do pagamento de uma factura demasiadamente pesada para o futuro das Caves e para o miolo do Centro Histórico, traduzida na destruição da riqueza única que Gaia ali encerra?!

Afinal, os grandes investimentos privados, nacionais e estrangeiros, que a Câmara Municipal diz ter já garantido, traduzir-se-ão em quê? Na valorização interna e turística das Caves do Vinho do Porto e do Centro Histórico de Gaia, preservando a sua memória e carácter? Ou, pelo contrário, abrirão caminho à delapidação de uma das maiores riquezas patrimoniais que nos foi legada e que temos como missão transmitir aos vindouros em estado que não nos envergonhe como usufrutuários e fiéis depositários da nossa memória colectiva?!... Será que Mário Dorminsky ignora que Vila Nova de Gaia possui uma das arquitecturas vinícolas mais atractivas do Mundo e um património histórico imaterial inestimável? Talvez…

Terá sido por essa ignorância que o vereador da Cultura, Património e Turismo admitiu sem pestanejar que o dossier de Candidatura das Caves do Vinho do Porto a Património da Humanidade deixasse de ser tutelado por si e passasse para as mãos de António Martins da Cruz, presidente de Administração da Agência Municipal para a Captação de Investimentos – AMIGaia?!.... Ou será que ele anda a “reboque” das decisões voláteis e “zigue-zagueantes” de Luís Filipe Menezes?! E por qual destas razões terá ele permitido a “amputação” do Convento Corpus Christi? Na entrevista a que me reporto, Dorminsky afirma que teve de sacrificar a «ideia que tinha para aquele espaço, por uma opção política da Câmara», cedendo uma parte do Convento à Gaiurb!!!...

A escrita já vai longa. Fico-me hoje por aqui, mas prometo voltar na próxima semana para abordar outros assuntos da área da Cultura, designadamente a requalificação dos Estaleiros dos Barcos Rabelos, o projecto Gaia-Capital Nacional da Escultura, o abandono da zona arqueológica do Lugar de Gaia, o desprezo a que se votou a Fábrica de Cerâmica das Devesas, o folhetim da Casa-Atelier Soares dos Reis, a falta de estratégias na área do Livro e da Leitura, a desarticulação da programação da Casa Barbot/Casa da Cultura e do Auditório Municipal, a vocação do Mosteiro da Serra do Pilar e as relações institucionais com o movimento associativo, com a economia do conhecimento, com as indústrias criativas e com o universo cientifico...

Estes são apenas alguns dos temas que me ajudarão a fazer o balanço do trabalho (não)realizado desde finais de 2005 pelo homem que há cerca de cinco anos chegou a Gaia para realizar um festival de cinema, processo sobre o qual ainda hoje se queixa (pese embora lhe tenha então sido prometido um espaço no Centro Cultural de Gaia para a instalação da “sua” cooperativa Cinema Novo – o que, pelos vistos, parece não concretizar-se). Diz ele na entrevista que as quezílias foram muitas. Ao que parece, a relação não foi nada fácil porque «o que na altura se tinha falado, depois já não era a mesma coisa» e ele acabou por ficar com «uma ideia muita estranha da maneira de funcionar da Câmara». Enfim, direi eu, está tudo como dantes no Quartel de Abrantes…