SANTA MARINHA, MEU AMOR

Friday, August 31, 2007

VILA NOVA DE GAIA É O CONCELHO COM MAIS DESEMPREGO A NÍVEL NACIONAL!!!

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Segundo as últimas informações do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), Vila Nova de Gaia apresenta o índice mais alto de desemprego da região Norte e é o Concelho a nível nacional com maior número de cidadãos inactivos. Para ser mais claro, sublinho que Gaia tem neste momento perto de vinte mil desempregados!!! Acresce ainda que, de acordo com este estudo do IEFP, em conjugação com os mais recentes dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística, concluo que o desemprego em Gaia resulta de características estruturais, uma vez que está associado ao encerramento de empresas, é de longa duração e atinge trabalhadores pouco qualificados e de idade relativamente avançada.

Curiosamente, estas estatísticas são conhecidas no momento em que Luís Filipe Menezes se vangloria de ser uma espécie de “campeão nacional” da captação de investimento estrangeiro, afirmando que, só este ano, já assegurou financiamentos na ordem dos mil milhões de euros para Gaia, o que, segundo ele, representa cerca de 25% de todo o investimento estrangeiro em Portugal no ano passado. Torna-se legítimo, então, perguntar para que tem servido tantos milhões. Se não serviu para promover a criação de emprego no Concelho, para que serviu então? Ou será que só agora, ao fim de dez anos de mandado como presidente da autarquia, é que Menezes conseguiu conquistar a confiança dos grandes investidores?!....

Mais importante do que conhecer qual o volume dos milhões angariados, o que importa mesmo saber é como vão ser eles aplicados. Hoje, mais do que nunca, face ao quadro exposto no parágrafo que encima este post, é indispensável que a estratégia dos investimentos seja articulada com uma verdadeira política de emprego para o Concelho. Impõe-se, para isso, que a Câmara dedique uma especial atenção às questões da formação e reconversão profissional, à promoção de incentivos à criação de micro-empresas, à implementação de medidas preventivas de deslocalizações e encerramentos abusivos de empresas e à defesa da qualidade e da estabilidade do emprego, através de medidas protocolorizadas com o IEFP e contratualizadas com os investidores.

A nóvel estrutura municipal AMIGAIA, fundada com a justificação da necessidade de criar empregos através da captação de investimentos, está muito aquém daquelas preocupações. Sabemos que absorverá mais de dois milhões de euros mas ninguém nos diz quantos postos de trabalho se propõe ela criar. O que nos é dito é que se prevê que as suas receitas ultrapassarão a subvenção da Câmara. Sou levado a concluir, portanto, que a prioridade da empresa não passa pela criação de emprego, mas sim pela constituição de uma fonte de financiamento para a edilidade. Não se pense, porém, que desvalorizo alguns dos objectivos da AMIGAIA, como o reforço da inovação tecnológica da economia, o reordenamento industrial e o apoio à internacionalização das empresas.

Mas esses são temas que abordarei em próximas oportunidades. A questão em que me focalizo agora é outra e tem a ver com o bem-estar, a qualidade de vida... a sobrevivência dos gaienses, no plano imediato e a curto prazo. Tem a ver com um flagelo que afecta actualmente no nosso concelho cerca de vinte mil pessoas em idade activa, sendo boa parte delas o único amparo de núcleos familiares numerosos, a viverem situações verdadeiramente dramáticas. É preciso acudir a essa gente. E isso só se consegue com um plano de emergência que conjuge uma política municipal de emprego com uma estratégia de apoio social moderna, proactiva e de proximidade, em cooperação com as vinte e quatro freguesias de Vila Nova de Gaia.

Reconheço que, em Santa Marinha, o executivo da Junta não está à altura de tamanha responsabilidade, mas estou absolutamente seguro de que um grande número das instituições que integram a Comissão Social de Freguesia será bem capaz de prestar um contributo inestimável na execução de um plano com aquelas características, assim como na sua definição. A experiência e o mérito que lhes estão associados na esfera das questões sociais, assim como a massa critica que representam, são garante de um desempenho de excelência. Não percebo, aliás, como aquelas estruturas têm sido completamente desaproveitadas pela autarquia de Santa Marinha nas acções de foro social que tem por missão desenvolver!...

Sunday, August 26, 2007

O “MARÉS VIVAS” – EU NÃO ESTIVE LÁ, MAS...

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Diz quem marcou presença no “Marés Vivas” que a Praia do Areínho esteve ao rubro na noite de 15 de Agosto, com as actuações dos Chemical Brothers e dos Da Weasel. É verdade que as expectativas do vereador Firmino Pereira sairam furadas. Esperava vinte mil pessoas, mas “só” conseguiu reunir no areal pouco mais de doze mil (há quem fale em quinze mil, mas... as contas não estão certas!). Apesar de tudo, a aposta valeu a pena. Mesmo com o “circo” desprestigiante que envolveu o evento, com a confusão do «não paga»-«não, não paga»-«afinal paga!» (as borlas acabaram por ser muitas, mas não para todos...), do «cancela»-«descancela!», e pese embora a iniciativa coincidir com o último dia do Festival de Paredes de Coura, não se pode falar em falhanço.

O Jorge Silva da PortoEventos está de parabéns. A organização, diz quem lá foi e percebe da “poda”, foi impecável. A dupla britânica de Tom Rowlands e Ed Simons esteve imparável, a banda portuguesa liderada por Pacman não desiludiu e os DJs convidados estiveram à altura do acontecimento. Mas... O que esteve para ser um festival digno da história do “Marés Vivas”, acabou por ser um “simples” espectáculo com duas excelentes bandas, apenas isso. E recordo que o que se pretendia com este evento era «colocar Vila Nova de Gaia e a Área Metropolitana do Porto no centro das atenções nacionais», como referiu o autarca Marco António Costa em conferência de imprensa realizada semanas antes. Só dá mesmo para rir!...

Se a memória não me atraiçoa, o “Marés Vivas” aconteceu pela primeira vez em 1998, começando por ser um certame de bandas portuguesas, que percorria várias freguesias da orla marítima e fluvial. Dois anos depois, optou-se pela sua concentração em apenas dois locais, durante quatro noites. Em 2001 (ano de eleições...), o “Marés Vivas” apresentou-se mais ambicioso, juntando as bandas Guano Apes, Jon Spencer Blues Explosion, Yo La Tengo, Fun Loving Criminals, Cousteau, Gift e Xutos & Pontapés. Tudo com entradas gratuitas!!! Este ano, depois de anunciado o seu regresso com um elenco de primeira linha durante dois dias, o “Marés Vivas” ficou-se por uma só noite, num único local (magnifico, é certo), com apenas duas bandas e... entradas pagas!!!

Sou contra, absolutamente contra, os espectáculos gratuitos. A prática da gratuitidade do “consumo” em qualquer sector de actividade apenas contribui para criar a ilusão de que o “produto” em causa não tem um custo real. As receitas das vendas devem ser entendidas por todos os “consumidores” como fundamentais para a produção do “objecto” consumido. É assim também com a Cultura, em todas as suas formas de expressão. O que não se pode é enganar, mentir, iludir o “público/cliente”, dizendo que não se paga nada por uma determinada produção e depois, quase de um dia para o outro, sem qualquer explicação razoável, exigir-lhe pagamento por um produto de qualidade inferior ao anteriormente anunciado como gratuito!...

Mas enfim... A “coisa” lá aconteceu . Os espectadores vibraram com tudo o que viram e ouviram no palco e os que pagaram bilhete não deram por mal empregue o dinheiro! Finda a festa, a Câmara garantiu que o “Marés Vivas” veio para ficar, recuperando em 2008 o figurino original, com pequenas alterações. Deixará definitivamente de ser itinerante e gratuito, como foi nas suas quatro primeiras edições, mas prolongar-se-á por três dias, no mês de Julho, com um cartaz de luxo. Sempre na praia do Areínho, em Oliveira do Douro. Resta-nos aguardar. Eu sei que nessa altura estaremos a pouco mais de um ano das próximas eleições autárquicas, mas... nada nos garante que não se repita a infeliz “novela” deste ano (ver posts dos passados dias 9, 20 e 30 de Julho)!!!

Mas se é mesmo verdade que o “Marés Vivas” se fixará em definitivo na praia do Areínho, transformando-se numa marca de referência da oferta das Artes do Espectáculo em Gaia, talvez não fosse má ideia aproveitar o ensejo para requalificar finalmente a margem esquerda do Douro a montante da ponte D.Luiz I. Criando, por exemplo, uma ligação à cota baixa entre Santa Marinha e Oliveira do Douro, através de uma via ciclopedonal que permita desfrutar da magnífica paisagem verde que se estende junto ao Rio, sem o perigo de quaisquer agressões ambientais, melhorando inclusivamente os cuidados na sua preservação de forma a que se constitua também numa zona de lazer de excelência. Fica a sugestão. Em breve voltarei ao assunto.

Wednesday, August 22, 2007

O MATAGAL DA RUA DO AGRO, OS VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS E O PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO...

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Alguns moradores da rua do Agro reclamam a limpeza de um extenso matagal que cresce às suas portas, para deleite da mais variada bicharada. O presidente da Junta diz que nada pode fazer para limpar o mato e exterminar a indesejável “vizinhança”, alegando que a propriedade é privada e está sob protecção do IPPAR. Que absurdo! O que está protegido não é o matagal, mas sim os vestígios arqueológicos que aquele esconde. Quanto à limpeza do espaço, nada impede que a Câmara (ou a Junta...) se substitua aos donos do terreno e acabe com aquela vergonha. Foi, aliás, o que a Câmara fez recentemente no caso da demolição do antigo edificio da Quimigal, quando a Refer ignorou supostamente os ofícios do município que determinavam aquela intervenção.

A Junta de Freguesia revela mais uma vez a sua incapacidade para interpretar e mediar as reivindicações da população de Santa Marinha junto das várias instituições (públicas e privadas). Neste caso da rua do Agro, justificar-se-ia uma grande firmeza não só na reivindicação da limpeza imediata do terreno por quem de direito, de forma livre ou coerciva, mas também na reclamação de uma intervenção arqueológica urgente na área. O resultado das escavações realizadas no Castelo de Gaia, entre 1999 e 2001, fazem prever que os vestígios ali existentes serão peças determinantes para um melhor conhecimento das nossas origens e das transformações operadas ao longo dos tempos na zona no Castelo, que constitui já uma estação arqueológica de grande valor.

A defesa da nossa memória colectiva tem sido uma pecha grave da acção dos executivos liderados por Joaquim Leite. Durante os seus mandatos já assistimos a alguns atentados ao edificado e aos vestígios arqueológicos. Cito apenas três exemplos ligados ao Património Fabril. Eis o primeiro: A Fábrica Têxtil Manú, erigida na primeira metade do séc. XX, situada na área de protecção do Mosteiro da Serra do Pilar (Monumento Nacional), começou a ser demolida sem o parecer prévio do IPPAR ou qualquer identificação da obra, como determina a legislação em vigor. Para além do incumprimento da Lei neste particular, foi ainda descurada a realização de imagens fotográficas ou videográficas da Fábrica com vista a registo patrimonial futuro.

Eis o segundo exemplo: A abertura de uma vala junto ao Convento de Santo António do Vale da Piedade, que se encontra classificado como Imóvel de Interesse Municipal, destruiu uma quantidade significativa de vestígios arqueológicos (cerâmica do tipo biscoito, faiança, etc.) relacionados com uma Fábrica que terá laborado nas instalações do Convento por volta de 1820, num período muito conturbado pelas lutas Liberais. O terceiro exemplo situa-se na rua de General Torres, onde uma obra destruiu um local de grande sensibilidade arqueológica relacionada com a Fábrica da Fervença, que funcionou de 1820 a 1857, e com a Fábrica da Torrinha, fundada em 1844 (...para além de uma Mesquita que ali terá provavelmente existido em tempos mais remotos).

O património arquitectónico, seja ele de que tipo for, é portador de uma mensagem histórica. No caso das Fábricas, elas são o retrato de uma época, de um estilo e de uma visão social. A partir do século XVIII, a indústria cerâmica marcou definitivamente a história de Gaia, dando lugar à construção de novas casas e lojas. Com o passar do tempo, o desenvolvimento comercial contribuiu para uma série de modificações na rede viária, com o alargamento e a abertura de ruas, construção de novas habitações e alterações na morfologia de outras. Destruindo as velhas Fábricas ou realizando obras sem o devido acompanhamento arqueológico, perde-se a oportunidade de conhecer e compreender o desenvolvimento e o crescimento da malha urbana.

Vila Nova de Gaia, que foi líder da indústria cerâmica, com mais de 40 Fábricas em plena laboração no século XIX, possui actualmente o pouco que resta deste Património Industrial completamente à deriva num grande mar de desleixo e de incompetência dos seus governantes. Em Santa Marinha, em pleno Centro Histórico de Gaia, continuam de pé (por quanto tempo?), resistindo com dificuldade ao mercantilismo dos nossos tempos e à insensibilidade cultural dos autarcas, as instalações da antiga Fábrica de Cerâmica das Devesas, um exemplar único no país, que exige medidas urgentes de preservação: está lá uma parte importante da própria História da Arquitectura e da Escultura Portuguesa do século XIX e do início do século XX!

E a tudo isto a Junta de Freguesia de Santa Marinha diz... NADA! Como nada diz acerca das mais variadas atrocidades que vão sendo cometidas no Património Cultural do Centro Histórico... ou sobre o matagal que vai crescendo e alimentando bicharada indesejável na rua do Agro, para desespero dos moradores!...

Sunday, August 19, 2007

“LEMBRAR ZÉ GUIMARÃES” – UMA FELIZ IDEIA DA JUNTA DE FREGUESIA DE SANTA MARINHA

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Noite de 15 de Agosto: Marés Vivas ou Festas da Senhora do Pilar? – eis o meu dilema. The Chemical Brothers e Da Weasel prometiam aquecer a praia fluvial do Areínho. Por outro lado, no Jardim do Morro, Natércia Maria, Duo Broa de Mel, Nelo Silva e Cristiana, a par de outros nomes conhecidos da música popular portuguesa e de alguns artistas amadores, propunham-se recordar José Guimarães, um dos mais ilustres filhos adoptivos de Gaia, numa justa e oportuníssima homenagem organizada no âmbito das Festas da Senhora do Pilar. A decisão só podia ser uma: levei o meu “catraio” mais novo até Oliveira do Douro e eu fiquei com a “patroa” por Santa Marinha.

Não podia deixar de estar presente. O Zé não merecia que eu marcasse falta. E faz-me bem recordá-lo. Ele deixou-nos a 20 de Janeiro de 2007 e se fosse vivo teria feito 77 anos no passado dia 11 de Agosto. Nasceu no Porto mas era um “gaiense do coração”. Poeta popular, letrista, músico, escritor, autor e encenador teatral, José Guimarães era um verdadeiro "autodidacta das actividades culturais", como um dia alguém lhe chamou. Começou muito cedo nas "lides" artísticas: com 12 anos já inventava pequenas revistas que eram interpretadas por crianças como ele, que moravam na sua rua. Estudou até aos 17 anos na Escola Industrial Infante D. Henrique, onde concluiu o curso complementar dos liceus.

Com 18 anos de idade, o Zé iniciou-se na escrita e na encenação de Teatro de Revista para grupos amadores. Mais tarde, estreou-se no teatro profissional. Das revistas de sua autoria, no teatro amador, destacam-se "Alma das Romarias", "O Porto em Festa", "Enfia o Barrete", "Balões da Minha Rua", "Aqui vai o S. Gonçalo", "Hei-de ir ao Senhor da Pedra". No teatro profissional foi autor, entre muitas outras, das revistas "Com eles no Sítio", de parceria com Coelho Júnior, "Canta que logo Bebes", de parceria com Lopes de Almeida, e "Catraias e Vinho Verde", de parceria com Carlos Coelho e Júlio César (em Lisboa, esta revista subiu à cena com o título "Aguenta-te à Bronca").

O Zé escreveu também inúmeras cantigas que andaram na boca do povo. Foi vencedor de Festivais da Canção, no país e no estrangeiro, e de numerosas Marchas de S. João. A sua produtividade criativa era de tal ordem que em 1971 já tinha mais de mil canções gravadas em disco. Quando faleceu tinha assinado quase duas mil. É seguramente o autor português com mais canções gravadas. Ada de Castro, Anita Guerreiro, Cândida Branca Flor, Carmen Silva (cantora brasileira), Conjunto Maria Albertina (de que foi director musical), Lenita Gentil, Maria da Fé, Rui de Mascarenhas e Trio Boreal foram alguns dos artistas e agrupamentos musicais que gravaram temas de sua autoria.

José Guimarães foi condecorado com a medalha de Ouro da Cidade de Vila Nova de Gaia por mérito cultural, em 1995. Dois anos depois viu um dos seus maiores sonhos ser concretizado: publicou um livro de poesia intitulado "Pedaços de Mim". Dado o seu empenhamento militante no associativismo, por todos reconhecido, o Zé era sócio honorário de numerosas colectividades da sua cidade natal e do seu concelho de adopção. Muito recentemente fora homenageado pela Associação das Colectividades de Gaia. Agora, a Junta de Freguesia de Santa Marinha teve a feliz ideia de o recordar... em festa, com o povo e com os seus amigos, na presença da mulher e dos filhos.

Esteve bem a Junta. Esteve mal, muito mal, a Câmara. O executivo de Luís Filipe Meneses primou pela ausência. Nem o presidente da edilidade, nem o vereador da cultura, ninguém... Nem o presidente da Gaianima! Nem uma mensagem sequer. Se o Zé tivesse sido uma vedeta televisiva ou uma qualquer figura mediática, Menezes teria estado presente. Se o Zé tivesse sido uma estrela da sétima arte, Dorminsky não teria faltado. Se o Zé tivesse sido um “génio da bola”, Guilherme Aguiar estaria na primeira linha do acontecimento. Mas não. O Zé foi “apenas” um poeta, um criador, um artista do povo, um homem simples e humilde que dedicou grande parte da sua vida ao associativismo e à cultura popular!...

Saturday, August 11, 2007

CONVIDADA PELA CÂMARA A INSTALAR-SE EM GAIA HÁ OITO ANOS, A ASSOCIAÇÃO ABRAÇO CORRE O RISCO DE SER DESPEJADA

salvadorpereirasantos@hotmail.com

No seu primeiro mandato como presidente da Câmara Municipal, em 1998, Luís Filipe Menezes convidou a Associação Abraço a instalar a sua Delegação Norte no Centro Histórico. Cerca de três anos depois, com o inicio das obras de construção do Cais de Gaia, o edil convenceu aquela Organização liderada por Margarida Martins a mudar-se “provisoriamente” para um velho edifício sito na rua da Carvalhosa, nas traseiras das antigas instalações da Real Companhia Velha. Entretanto, no livro “1997-2001 Quatro Anos Depois”, editado pelo municipio aquando das Eleições Autárquicas de 2001, o presidente Menezes escrevia que iria nascer brevemente na Escarpa da Serra do Pilar, junto à Ponte D.Luís, um «Fórum de Liberdades Civicas», onde a Abraço teria a sua sede definitiva...

Na escarpa da Serra do Pilar está, infelizmente, tudo na mesma. E a Abraço continua instalada num lugar provisório... há seis anos. Mas, segundo os jornais, por pouco tempo! Não se pense, porém, que a edilidade encontrou finalmente um outro espaço (definitivo...) para aquela Instituição Particular de Solidariedade Social poder desenvolver com melhores condições o seu merítissimo trabalho de prevenção e combate ao vírus da Sida e de apoio a pessoas infectadas. Não, nada disso. A notícia veículada pela comunicação social é outra: a Abraço tem de abandonar dentro em breve o velho prédio da rua da Carvalhosa, porque as obras de construção do Centro Cultural de Gaia arrancam em Setembro! Assim mesmo, sem um aviso prévio da Câmara, um telefonema, uma palavra...

Logo que teve conhecimento da notícia (pelos jornais!...), há cerca de um mês, a Abraço pediu uma reunião com o vereador da Acção Social, Guilherme Aguiar. O autarca confessou não ter ainda solução para o problema, mas descansou os representantes da Associação quanto a uma eventual ordem de despejo. A verdade é que o tempo foi passando e... os responsáveis pela obra do Centro Cultural acabam de informar que a empreitada vai avançar no próximo mês, sendo que o edifício onde funcionam os serviços da Abraço é um dos primeiros a serem intervencionados. Entretanto, a Associação foi confrontada com um autocolante da Junta de Freguesia de Santa Marinha a informar que teria de sair daquele espaço. Ou seja, enquanto a Câmara diz que procura uma solução para o problema, a Junta ignora-o!...

No meio do frenesim da sua candidatura a líder nacional do PSD, Luís Filipe Menezes não tem tempo para se preocupar com o problema, mas garante que a Câmara está a estudar uma solução adequada. No entanto, adianta que a Abraço não pode continuar no edifício actual, porque vai entrar em obras. O edil garante que a Câmara tudo fará para manter aquela Associação em Gaia, mas remete o assunto para José Guilherme Aguiar, uma vez que o dossiê está nas suas mãos. Até aqui tudo bem, mas... o presidente Menezes diz ainda que «não anda a competir com outras câmaras, pelo que, se houver melhores opções em Matosinhos ou no Porto, a Associação pode mudar-se»! E isto é que é preocupante. Será que a Abraço agora é descartável porque perdeu a visibilidade mediática que tinha em 1998/2001?...

Embora sem o mediatismo dos anos 1990, a Abraço continua a desenvolver a sua actividade com o mesmo dinamismo e abnegação, implementando estratégias de intervenção específicas dirigidas ao público jovem e à comunidade em geral, visando a prevenção do HIV/Sida, para além da especial atenção dedicada à população portadora daquele terrível vírus. Actualmente, a Delegação Norte da Abraço apoia directamente oitenta e sete pessoas infectadas, sendo que trinta delas têm apoio domiciliário e oito estão numa unidade residencial. A ajuda prestada aos portadores de vírus da Sida traduz-se também em acompanhamento psicológico e social, em apoio jurídico, na oferta de alimentação e de medicamentos, na disponilidade de transportes e na articulação com outras instituições e comunidades terapêuticas.

Todo este trabalho implica naturalmente uma retaguarda logistica de grandes dimensões, pelo que não será muito fácil encontrar instalações alternativas ao espaço até agora ocupado na rua da Carvalhosa. Entretanto, Setembro aproxima-se e a Câmara mantém o silêncio. Esta situação de impasse é preocupante, pois a mudança de sede de trabalho da Abraço terá que ser preparada com antecedência para não colidir com os inúmeros projectos em curso. Não é de um dia para o outro que se resolve este problema, mas quero acreditar que Luís Filipe Menezes não “suje a face” durante a sua caminhada para as “directas” do seu Partido, deixando a Abraço sem Casa e perto de noventa pessoas do Norte (boa parte de Gaia) abandonadas à sua (má) sorte! Confesso que vou aguardar o desfecho deste caso com alguma apreensão...

Wednesday, August 08, 2007

OS EDIFÍCIOS NOVOS E OS IMÓVEIS EM RUÍNAS ou OS CONDOMÍNIOS DE LUXO E AS HABITAÇÕES SOCIAIS

salvadorpereirasantos@hotmail.com

Face à crescente degradação do património edificado do Centro Histórico de Vila Nova de Gaia, a Câmara Municipal responde com um ritmo quase esquizofrénico de novas construções e retrai-se nos esforços conducentes a recuperação dos imóveis existentes, alguns com patologias quase irreversíveis e sem condições de habitabilidade. Por outro lado, o número de novas habitações destinadas a gente da classe média, ou média baixa, parece resumir-se a um empreendimento financiado a fundo perdido pelo Instituto Nacional de Habitação, enquanto os condomínios fechados e os complexos habitacionais de luxo, apenas ao alcance da classe média alta e superior, multiplicam-se pelo território ribeirinho vizinho do Cais.

Apenas a título de exemplo, recordo que a Câmara Municipal promete erguer até final do próximo ano, num terreno devoluto no gaveto da rua General Torres com a rua de Guedes de Amorim, uma Urbanização Social, denominada Miradouro e projectada pelo arquitecto Rui Loza, que terá entre 45 a 55 apartamentos e um pequeno mercado “popular” no rés-do-chão, destinada, segundo a edilidade de Gaia, a famílias carenciadas que vivem em edifícios degradados no Centro Histórico, enquanto junto ao Douro, no lado poente, nascem mais dois empreendimentos de luxo para gente de grandes posses económicas, a juntar a mais uns quantos que dia após dia vão sendo anunciados com pompa e circunstância por Luís Filipe Menezes e seus pares.

O velho edifício onde funcionou a Destilaria de Álcool vai dar lugar a um Complexo Habitacional com 48 fogos de tipologia variada, que serão comercializados a um preço estimado em 2.550 euros/m2, e no espaço onde funcionou até final do ano passado o Hard Club vai nascer o Rei Ramiro Terraces, um empreendimento residencial com 19 moradias servidas por uma piscina de condomínio na cobertura, cujo preço por m2 se estima em 3.000 euros. Em ambos os casos regista-se a assinatura do arquitecto Pedro Balonas, que, a convite da empresa britânica Squarestone Atlantic LLP, desenhou casas de sonho, para gente de grandes fortunas e de gosto fino, com… «amplas salas e quartos de dormir virados para o Douro».

Pese embora todas estas evidências, Luís Filipe Menezes sublinha, com o populismo e a demagogia que o caracterizam, que «a Urbanização Social Miradouro será para famílias da Zona Histórica a viver em más condições, evitando, assim, que partam para outras freguesias e deixem os locais de origem». Este facto é muito curioso e paradoxal se atendermos que um dos maiores males que a Câmara Municipal tem feito no Centro Histórico prende-se exactamente com o seu esvaziamento de habitantes, nomeadamente dos mais velhos, dos que lá nasceram ou viveram desde muito jovens, que foram deslocados “à força” para outros lugares com a promessa de que voltariam, e que por lá continuam, desenraízados, desiludidos e amargurados.

Se a Câmara Municipal de Gaia quisesse de facto manter na beira-rio os homens e mulheres que lá vivem, invistiria prioritariamente na reabilitação urbana, num desenvolvimento completo e integrado do Centro Histórico, envolvendo o património físico, as pessoas e o seu meio ambiente, de forma a preservar a memória do seu passado e a assegurar o seu futuro como espaço agregador, multigeracional e interclassista. Mas é óbvio que o objectivo é outro. Menezes está sobretudo interessado em atrair para o local os mais poderosos, os ricaços, os homens do golfe e do ténis... a nata do jet set nacional! O senhor presidente não quer um Centro Histórico para todos, mas apenas para alguns, transformando-o numa espécie de “passerelle” do luxo!...

É preciso impedir que se consuma a “construção” de um Centro Histórico a preto e branco!... Para que esta situação não se torne irreversível é urgente intervir, dizer basta! Na realidade, o que está em causa é a preservação de um vasto acervo fundador da nossa identidade e da nossa memória colectiva, materializado na diversificação de uma “paisagem” que constitui o espaço de afirmação da história Vila Nova de Gaia, que é da responsabilidade de todos. A massa critica do concelho parece anestesiada pelo marketing municipal. «Gaia é Obra» e «Gaia está na Moda» são apenas frases de publicidade enganosa, que escondem uma realidade preocupante: o futuro de boa parte do nosso passado está comprometido... mas não ainda irremediavelmente!

Saturday, August 04, 2007

AS FESTAS DE SANTA MARINHA VÃO DE MAL A PIOR

salvadorpereirasantos@hotmail.com

As Festas em honra da padroeira da freguesia de Santa Marinha correram mal ao presidente da Junta pelo segundo ano consecutivo. Em 2006, Joaquim Leite começou por se envolver numa inexplicável discussão em público com o pároco do Candal e acabou por levar um valente “puxão de orelhas” do vice-presidente da Câmara Municipal por este ter considerado que o evento havia transformado a marginal junto ao Cais num arraial popular sem a dignidade exegível para o local, o que jamais poderia tolerar. Por essa razão, Marco António Costa delegou este ano a coordenação dos festejos na Gaianima, a quem coube satisfazer parte do seu financiamento e definir o modelo de organização, o que irritou “solenemente” o presidente Joaquim Leite. Resultado: a Junta de Freguesia auto-excluiu-se das Festas de Santa Marinha.

Este desfecho não me surpreendeu, porque conheço o autismo, a prepotência e o autoritarismo de Joaquim Leite e a sua total incapacidade para sanar conflitos e gerar consensos. Isso revela-se, aliás, no quotidiano da Junta, que ele “governa” como se fosse “coisa” sua, rejeitando liminarmente qualquer reparo ou critica, enjeitando responsabilidades ao ser confrontado com erros ou omissões do orgão a que preside, negando as evidências quando elas o colocam em causa, ignorando invariavelmente todas as opiniões que divirgam das suas... E este enunciado de comportamentos reveladores do seu carácter não se aplica apenas nas relações com os representantes das forças políticas opositoras. É já claro o conflito que o opõe à presidente da Assembleia de Freguesia, eleita pela coligação que sustenta o executivo da Junta!...

Surpreendente foi a forma como a Gaianima perdeu uma excelente oportunidade de dar corpo a um evento que aliásse a tradição à modernidade, o popular ao cosmopolita e o religioso ao profano, que alavancasse as Festas para uma dimensão capaz de as transformar a curto prazo num verdadeiro ex-libris do Centro Histórico de Gaia. A lenda de Santa Marinha tem um inestimável potencial turístico ainda por explorar! O que terá faltado, então? Criatividade?! Empenho?! Profissionalismo?!... Faltou tudo isso e muito mais! Faltou até José Guilherme Aguiar ou alguém em sua representação que se dignasse acompanhar a Procissão. E acabaram por faltar também os andores de São Gonçalo, de Nossa Senhora da Piedade e de Santa Teresinha, por não haver quem suportasse os custos da sua ornamentação e os transportasse...

Faltou realmente quase tudo nas Festas deste ano. Até o povo! Comparativamente aos anos anteriores, os festejos foram muito pouco concorridos. É natural. Não se viu em algum lado um “banner” ou qualquer outro suporte promocional da sua realização. Nada. Nem no site da Junta! O executivo liderado por Joaquim Leite, que costuma ser pouco contido na compra de espaço publicitário na imprensa local, limitou-se a afixar um Edital no Edifício da Junta onde se demarcava da organização das Festas. Com esta atitude demissionista, que não passou de mais uma birra irresponsável do seu presidente, a Junta fechou as portas a uma desejável cooperação estratégica com a Câmara, visando um salto qualitativo das Festas de Santa Marinha, e abriu caminho a que a Gaianima fizesse destas o que muito bem lhe aprouvesse.

E o que fez a Gaianima? Muito pouco, quase nada! Dedicou apenas um dia à padroeira. Deixou que a Comissão de Fábrica da Igreja de Santa Marinha realizasse a Procissão absolutamente à sua vontade, obrigando os fiéis a subir a rua Cândido dos Reis de andores às costas, como se de verdadeira penitência se tratasse. Permitiu a instalação na marginal de três “pobres” carrosséis, um desconchavado pavilhão de bilhares e matraquilhos, algumas toscas barraquinhas de farturas e pipocas... (de quem serão as orelhas que Marco António Costa vai puxar este ano?). Trouxe até ao Cais uma Fernanda de Sousa (perdão, Ágata...) em fim de carreira, com as suas cantigas de “amores mal resolvidos”, para entreter o povo. E... nada mais! Tudo isto com a cumplicidade demissionista e irresponsável da Junta de Freguesia.